domingo, 29 de abril de 2012

Domingo, XXIX


Garoa e refrescante brisa de outono do lado de fora. O domingo estava diferente. Não porque segunda-feira fosse um dia útil sem trabalho às vésperas do dia do trabalho: ao invés de aproveitar a cidade tranquila, do jeito que gostava, estava em casa, procurando folhas de rascunho.

Desfizera-se de algumas coisas semanas atrás. Papéis e impressora, por exemplo. Sacos de lixo cheios e menos espaço disponível - o contrassenso de toda arrumação – já era esperado. Mas ter que interromper seu atual projeto por falta de papel, não imaginava.

Se soubéssemos as respostas não faríamos perguntas, foi o que lhe ocorreu. E estava naqueles momentos que nos mostram que se não sabemos as respostas, menos ainda temos preparo para provocá-las.

Na gaveta “rascunhos” possuía folhas tamanho ofício, folhas de papel reciclado, alguns envelopes; o que faltava era A4 branca já escrita ou impressa, tamanho que havia utilizado até o momento; empolgara-se na produção e ficara sem.

Reciclar o que aparentemente não teria mais utilidade, virar a página e alterar o conteúdo do que já fora escrito eram atividades corriqueiras, das quais exigia simetria para continuar...abriu o pacote que ajustava a altura do monitor e passou a escrever em novas A4 brancas, seus futuros rascunhos.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

E ainda se consideram capazes de organizar uma Copa...

É na hora da correria, em cima da catraca, que se descobre que o cartão do transporte público está sem carga. Foi num contexto destes, mais precisamente na manhã de um domingo, que o característico xis (ou chis, se você preferir o dicionário Aurélio ao VOLP) vermelho apareceu.

Gostava de usar cartão no transporte, era muito mais prático. Não era tão barato quando na época em que comprava os bilhetes nos camelôs, mas considerava sua implementação algo bem inteligente e torcia para um dia poder pagar pelo banco ao invés de enfrentar filas.

Trinta Reais, respondeu-lhe a atendente daquela cabine escura milagrosamente sem fila. Achou caro ser essa a melhor e menor recarga. Mas ou comprava ou ia perder de vez sua massagem. Estivesse em boas condições ainda daria tempo de ir a pé, só que mal conseguia se mover, a tensão dos últimos dias enrijecera a musculatura, precisava ir nem que fosse para fazer quinze minutos...Não era possível perder tempo reclamando, nenhuma tabela de preços estava fixada e, além disso, estava em uma estação do metrô sem funcionários, só havia aquela menina que fazia palavras-cruzadas e insistia em cobrar-lhe os trinta reais.

Pagou e, ao desembarcar, Bingo! Deparou-se com o cartaz dos preços: o correto, no cartão lazer, é vinte e cinco reais a recarga, não os trinta cobrados. Se a sua reação for "só cinco reais" lembro que se trata de vinte por cento do valor, ou seja, só depois de mais de dois anos na caderneta de poupança é que vinte e cinco reais passa a ser trinta.

Tentativas de reaver o dinheiro:

1) Registrou na página de reclamações do metrô: apenas um mês depois recebeu um telefonema da ouvidoria informando que por problema no sistema sua reclamação não havia sido processada no tempo regulamentar, que entrariam em contato com a empresa terceirizada para que ela providenciasse uma resposta.

2) Voltou na estação em que a venda foi feita: disseram-lhe para falar diretamente com a vendedora, mas que não sabiam o horário em que ela trabalhava, já que seu nome não havia sido anotado.

3) Ligou para o 0800 do metrô, que lhe disse só haver atendimento na estação da Sé.

4) Na estação Sé informaram-lhe que só resolviam o problema se fosse por erro de sistema, mas que tendo em vista que no comprovante da recarga constava os trinta pagos, nada poderia ser feito.

5) Ligou para a empresa terceirizada que fez a recarga. Prometeram retorno em quarenta e oito horas, porém só ligaram dois dias após o telefonema da Ouvidoria do metrô (item 1) pedindo um número de bilhete único para poder fazer o ressarcimento. O dinheiro não poderia ser devolvido e para fazer a recarga havia necessidade de comparecer a um dos postos da empresa (há mais de uma empresa terceirizada fazendo recarga do metrô), ou seja, enfrentar fila.

Imagina se fosse turista, na sorte não perceberia que fora enganado, porque senão só teria ciência do prejuízo e não receberia o crédito, já que dificilmente alguém fica cinco semanas (tempo que levou para a restituição ser feita) em uma mesma cidade de destino. Volto a afirmar o que escrevi há mais de um ano (leia aqui): em 2014, Brasil, fui! No período pré e durante a Copa qualquer lugar do globo terrestre vai estar melhor do que aqui.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Precisar de veículo particular é não ter mobilidade!

Recebi, como todo morador da capital de São Paulo (pelo menos assim está escrito), correspondência e formulário da prefeitura informando sobre Censo 2012 inclusão, destinado aos residentes do município que tenham deficiência e mobilidade reduzida.

A lei que deu origem ao Censo, como explica a carta, é de janeiro de 2010. Mesmo considerando que a eleboração do formulário não é algo que se consiga fazer rapidamente, de que há necessidade de licitar para imprimir os formulários e outros preparativos mais, a sua distribuição em ano eleitoral macula a intenção do ato. Pena.

Resolvi que manterei o formulário comigo até dia 21 de maio, data limite para sua postagem (selo pago pela prefeitura); lembrei-me de alguns cadeirantes que encontro nos semáforos, talvez não sejam residentes, talvez nem tenham conhecimento do novo canal de comunicação...

Foi aí que eu percebi: não é um canal de comunicação com o cidadão que precisa locomover-se na cidade, mas apenas levantamentos de dados estatísticos vinculados ao CEP de residência, onde moram e como preenchem o seu dia é o que perguntam, não as dificuldades que enfrentam.

Com um pouco mais de reflexão percebi que, apesar de gozar de plena saúde e preencher as características dispensadas à normalidade, eu fazia parte das pessoas com dificuldade de locomoção. Mesmo desconsiderando as vezes em que a opção pelo carro é feita por uma questão de segurança, há várias outras em que dirijo ou pego carona devido às características da cidade, não à distância a ser percorrida.

Procuro ser concisa em meus textos aqui publicados, mas resolvi transcrever o que enviei para censoinclusao@prefeitura.sp.gov.br, e-mail destinado a tirar dúvidas, mas que resolvi transformar em canal de comunicação, afinal, vai que alguém mais se entusiasma a manifestar-se a respeito...

* * *


Prezados,


Recebi o formulário do Censo de Inclusão e, apesar de compreender a necessidade do levantamento de dados para estabelecer prioridades, lamento que somente em final de gestão ele comece a ser implementado.

Não possuo deficiência, mas apesar de ter o privilégio de morar próximo a metrô, considero-me com mobilidade reduzida.

Começo relatando-lhes fato ocorrido, relacionado a uma indignação: não tem cabimento ser mais fácil – com mala – chegar e sair de Cumbica do que de Congonhas! Apenas em uma ocasião indo a Congonhas o ônibus tinha degrau rebaixado ao invés daqueles estreitos, em que além de ruim de subir e descer, não permite que passageiro e bagagem fiquem lado a lado.

Pois bem, subi com mala em um ônibus vazio e com degrau rebaixado. Fiquei na parte da frente, pois geralmente o cobrador concorda em rodar a catraca. Para minha surpresa, havia uma cadeirante; ela fez sinal para descer e o corredor, que parecia largo, era exatamente da largura de sua cadeira. Resultado: se não fosse possível colocar a minha pequena mala em cima de um dos bancos vazios, eu teria que descer. O mesmo teria ocorrido se houvesse alguém de pé. Imagina em um dia de chuva! Fiquei com dó do motorista e do cobrador, que saem do ônibus para dar assistência, ouvindo as buzinas dos carros atrás, pois não há recuo para os ônibus estacionarem com segurança. Além disso, se houvesse outro cadeirante naquele horário, ele teria que aguardar o próximo ônibus, pois só cabe um por vez.

Além de ter poucos ônibus “amigáveis” às pessoas com mobilidade reduzida (idosos, cadeirantes, passageiros com pacotes), a organização de seus bancos não favorece o embarcar e desembarcar dessas pessoas. Tem que se considerar isso nas próximas compras.

Em Congonhas, ainda por cima, depois de “sobreviver” ao ônibus, na ida ou na volta tem aquela passarela, cheia de degraus, nenhuma rampa ou visibilidade que dê segurança a quem por ela passe (pelo menos agora, com a existência dos camelôs, parece haver menos risco de assalto). Por que não uso taxi? Às vezes uso, mas exclusivamente por não ter mobilidade dentro da cidade.

Há outra questão que me obriga, de forma contrariada, a usar carro em trechos curtos: fala-se muito da má conservação das calçadas, porém nunca ouvi quem questionasse o declive existente entre a porta dos imóveis e o meio-fio. Da forma como a sinalização para os veículos é feita (sim, a sinalização da capital é para veículos, não para pedestres), geralmente há um lado da calçada que é mais benéfico de se andar. Ano após ano, escoliose é consequência certa. Pedestre em São Paulo não tem vez, isso é fato!

O acesso à Paulista, ao lado do MASP é um exemplo disso. Já mudaram a faixa de segurança de lugar, mas é inviável ali – talvez deslocar o semáforo da Paulista ajudasse, ou então inverter a “subida e descida” das laterais do museu. Só espero que não tenha que morrer alguém para que o trecho seja repensado.

Já fui atropelada por um entregador de fast food em pleno Vale do Anhangabaú. A pedra portuguesa estava molhada, o garoto derrapou e veio para cima de mim. Recebi 6 pontos na perna e o roxo da minha barriga levou quase 2 meses para sair. Como o telefone da empresa não recebe ligação de celular (o rapaz, sem equipamento de proteção, também se machucou) e não consegui testemunhas,  pouco resultado tive expressando minha indignação.

Se fosse um cego e não eu, ele estaria sem entender nada até agora: atropelamento em zona de pedestre... você nem percebe que é uma bicicleta, quando está no chão é que vê. Deveria ter uma identificação nas bicicletas de quem entrega, para podermos denunciar irregularidades – não adianta dizer “entregador do McDonald”, eles querem saber nome, mas se o funcionário mente (ou se eles mentem não confirmando o nome), fica o dito pelo não dito. Já vi skatista atropelando na calçada da Paulista, imagina o inferno que vai ficar se não forem regulamentadas as outras formas de transporte e as calçadas ficarem boas. Ciclistas querem espaço, não sou contra, mas a cidade precisa urgente sinalizar como cegos, cadeirantes, idosos e pessoas com ou sem pressa conviverão com as alternativas sobre rodas existentes em calçadas cada vez mais estreitas.

Por fim, lembro que a fumaça exalada pelos ônibus e demais veículos, que mancha as roupas claras de quem caminha, sem falar nos pulmões, obriga o trabalhador que depende de uma apresentação razoável para manter-se no emprego a usar carro e não transporte público.

Talvez educação sobre o trânsito no jardim de infância, nas escolas, nas empresas seja uma forma de melhorar a situação no médio e longo prazo, bicicletários seguros e banheiros com duchas no trabalho também complementariam as possibilidades de mobilidade.

Estou torcendo para que haja êxito, e que as ações não fiquem só para a véspera da próxima campanha municipal (2016).

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Só é enganado quem quer

O noticiário informa que as instituições financeiras aceitaram as pressões do governo e diminuíram os juros dos empréstimos bancários. ...
Lembro de ter lido há alguns dias que a capacidade de endividamento do brasileiro estava próxima ao limite, ou seja, quem podia se endividar já estava endividado. Também voltaram os rumores – logo abafados – de mudança no cálculo da caderneta de poupança.
Com a redução da taxa Selic para 9%, desconsiderando o compulsório, que é um percentual dos depósitos bancários que precisam ser entregues ao Banco Central, os bancos pagam praticamente 7% de juros para os depósitos em caderneta de poupança (o queridinho das pessoas físicas) e a melhor taxa que conseguem com baixo risco é 9%. Convenhamos que 2% para pagar custos sem demitir e, além disso, manter as margens satisfatórias aos acionistas exigiria muita ginástica... Emprestar para mais clientes ficaria difícil (lembra do endividamento próximo ao limite?), a não ser que o empréstimo ficasse mais barato, já que com o valor da prestação menor... Diminuir os juros cobrados foi consequência da política monetária e não vou levantar a lebre se ela é mérito de um Banco Central independente ou se uma ordem da Presidenta, questiono apenas se foi benéfico para quem paga as contas em dia e compra de acordo com suas posses (ou para o país essas pessoas não importam?).
O resultado financeiro dos bancos deve continuar excelente, pois se as taxas de juros diminuíram, as tarifas subiram. Antes, apressadinhos e inadimplentes sustentavam os bancos, hoje, depois do investimento na inclusão bancária das classes D e E, todos que não tenham considerável quantia depositada pagarão a conta: o custo operacional, que era sustentado pela comercialização de seus produtos, agora é garantido pela presença dos clientes. Ganhar dinheiro, pelo menos para os bancos, ficou mais fácil.
Mesmo quem tem a opção de voltar à conta-salário vai amargar com a nova tarifa, afinal, débito automático e cheques não são cancelados no mesmo dia. Mudar de banco, alternativa das pessoas que me alertaram a respeito, parece-me medida paliativa: quem ainda não cobra vai passar a cobrar e, se a nova instituição ficar mais cara, ao retornar à instituição anterior, não duvido nada que esta venha a cobrar por serviços que hoje são isentos, como débito automático. Fechar a conta é rescindir um contrato, pacotes de serviço hoje existentes poderão não ser mais oferecidos.
Fazer o quê, então? Se não fosse a crise reconhecida somente no exterior, eu até pensaria em migrar para moeda estrangeira, afinal, tudo está mais barato lá fora, só que a moeda já subiu bem nos últimos dias.
Preciso esclarecer que não sou economista, apenas alguém consciente de que os recursos são escassos e, por isso, que fica muito satisfeita quando obtém retorno máximo com esforço mínimo. Estou atenta e completamente perdida quanto à melhor atitude a tomar - qualquer contribuição que alimente reflexão a respeito será válida.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Trocando seis por meia dúzia

Dia desses uma amiga confidenciou-me que trocaria a magistratura por medicina. Pediu-me segredo, não minha opinião. Porém, agora que parece ser fato consumado, sinto-me livre para publicar minha reflexão a respeito: mera troca de seis por meia dúzia.
Nada a ver? Tanto o médico quanto o juiz só são procurados quando há problema envolvendo a vida das pessoas; eles não podem recusar-se a atender, mas por diferentes motivos técnicos, “indicar um colega” é um atendimento considerado correto.
Pode-se afirmar também que o prestígio social das duas profissões se equivalem, e que nunca trabalham sozinhos, apesar de socialmente receberem o mérito do que é feito por toda a equipe. Enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos obrigatoriamente interagem e cuidam de seus clientes. Médico pode curar sem precisar lidar com a pessoa, como ocorre com os cirugiões. Da mesma forma, advogados, defensores e funcionários do cartório lidam com as partes, juiz só as vê em audiência (quando há audiência), mas parece que quanto mais distante ficar, mais valorizado é o profissional.
* * *

Fomos criados para substituir a escola pelo trabalho e o trabalho por uma aposentadoria. A família em que você nascesse, o emprego e o relacionamento que você conseguisse representavam tanto uma conquista esperada pela sociedade como uma condenação por ela imposta.
Hoje mudamos de emprego, de profissão, de cidade, de relacionamento, de família, de hobby. Na idade em que hoje temos filhos nossos antepassados já eram avós. Ganhamos tempo de vida não apenas através da longevidade, mas também graças à tecnologia. Somos a primeira geração a ter essa conquista; à medida que vivemos vamos descobrindo no que utilizá-lo: em mais trabalho e não dispensar qualquer momento refletindo se só há mesmo uma única opção? Em mais lazer (e qual lazer?), desperdiçando oportunidades de negócio?
Se existir resposta certa, será a única em que se consegue responder sem ponderar fatores externos, passados e futuros – e que pode perder sentido a qualquer momento. Afinal, quem consegue responder, de forma sincera, o que realmente importa para si?

domingo, 15 de abril de 2012

Sexta-feira Treze

Somente ao chegar em casa percebera que sua chave não estava na bolsa. Nem a chave, nem o hidratante. Respirou fundo, de forma otimista imaginou-os caindo enquanto corria fugindo da chuva, afinal os cartões estavam todos e, pelo menos, o celular além de não ter sido perdido, estava carregado...
Era impossível refazer o caminho percorrido durante o dia, não seria prudente àquela hora, muito menos produtivo, já que todos os lugares certamente estariam fechados.
Lembrou-se do serviço adicional contratado com o seguro do carro, mas o telefone da seguradora ela tinha em casa e no carro, não naquele celular. 4004 o que mesmo? Na segunda tentativa acertou o número, até que não estava assim tão sem sorte naquela sexta-feira 13, ou melhor, sábado 14. Deveria ser isso, já era sábado.
Como era a chave da sua casa? Em formato de cruz, respondeu, com um cachorrinho ao lado do ponto que indica o sentido correto. Previsão de atendimento: 120 minutos, mas poderia ser antes devido aos poucos chamados naquele horário. Respirou fundo novamente. Não adiantava ter sono, precisava entrar em casa.
Logo, logo chegou um rapaz educado exalando cigarro e prometendo abrir a fechadura num zás-trás. Mas aí a expressão do rosto dele mudou, demonstrando preocupação: aquele tipo de fechadura não tinha cobertura, inclusive ele sequer tinha ferramenta para aquilo.
Ela lembrava de ter trocado o miolo e escolhido o modelo mais seguro, mas não tinha ideia que isso pudesse corresponder a só ter o arrombamento como solução, e numa hora daquelas...Talvez fosse melhor ir para um hotel ao invés de arrombar. Mas talvez o rapaz não pudesse retornar sem a satisfação da cliente e ligou para a central. “Qualquer um abre com um lixa, é normal” foi a resposta que ouviu. Ufa! O arrombamento estava descartado.

Com uma lanterna de luz azul, o rapaz bufava nervoso enquanto mexia. Ela caminhava de um lado para o outro mais para garantir que a luz do hall não apagasse do que por impaciência. Afinal, não tinha noção do que seria um tempo razoável para descobrir o segredo de uma fechadura. Seu vizinho, chegando em casa, assustou-se ao vê-la ali, mas conteve o riso ao saber da história.
E a porta continuava fechada. Nova ligação para a central. “Tira os parafusinhos à volta que ela desprende”. Assim ele fez e nada. Até que ela autorizou que houvesse dano, caso não houvesse outra possibilidade...
A porta foi aberta e a fechadura passou a exigir “um jeitinho” para funcionar. Ela ficou perplexa ao perceber que não se lembrava da chave da própria casa, que não era nem um pouco parecida com a que havia descrito. A chave já foi encontrada, mas isso seria uma outra história...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Marketing Construtivo

De manhã, quando eu saia para a escola, precisava sempre voltar e guardar o jornal que estava no carpete. No horário do almoço, meu avô comentava o que havia lido. Aí o jornal "quebrou" e o outro, que não era 100% local, demorou a ser aceito.

Aprendi a ler jornal aos 14 anos. Minha professora fazia com que comparássemos as frases da mesma notícia em veículos impressos diferentes, o que incluía eventualmente revistas. Assim, se eu não gostasse de uma notícia - ou se quisesse defendê-la - sabia exatamente onde procurar argumentos.

Hoje já não percebo tanta diferença nos discursos. Quando a oposição virou governo, o jornal de oposição virou governista e o governista manteve sua identidade. A charge do Millor, feita na época da ditadura, mostra uma realidade que não existe mais, não porque não haja mais censura - a possibilidade de indenizar é um limitador real que a todos atinge - mas porque cada vez mais tanto faz ler um ou outro veículo; a informação política e econômica será a mesma.

* * *
O título dessa postagem deve-se à atual exposição nos corredores do Conjunto Nacional, onde tirei a foto. Além de algumas charges, fotos e gráficos de jornal relembram de forma cronológica 90 anos de história da cidade, do país e do mundo. De forma simples e muito bem apresentada, os painéis informam e aproximam o transeunte, tornam-no um leitor do jornal expositor. Quase nem parece propaganda.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Renovação alternativa para a páscoa

Basta uma tesoura e alguns segundos
Há hábitos que só percebemos serem diferentes ao conviver com outras pessoas. Cresci vendo a esponja de lavar louça sendo dividida em dois antes de seu primeiro uso. Mais do que seu significado econômico (de comprar pelo menos a metade da quantidade que seria utilizada sem o prévio fracionamento), trata-se de uma adaptação do produto à anatomia (as esponjas curvas são melhores, mas não as ideais para quem é, digamos, petit[e]).

Observe-se lavando louça: pouquíssimas são as superfícies lisas em que você utiliza a mesma força - simultaneamente - nos dedos e na palma da mão. Mesmo que você seja uma pessoa alta, e sua coluna aceite curvar-se à imprópria altura da pia (eu sinto uma baita diferença com um reles salto 7), é bem provável que você só utilize parte da sua esponja durante o lavar. Contudo, o sabão você coloca em toda sua superfície e, no enxaguar, também muito mais água será necessária, seja porque nem todo sabão foi utilizado, seja porque a esponja é maior. Tenha certeza que sua secretária do lar age da mesma forma e ignore a cara feia dela ao saber da novidade: com tempo ela acostuma-se a usar uma esponja menor.

Se pareço-lhe estar exagerando, permaneça passivamente aceitando o que lhe é oferecido nas prateleiras. Afinal, cada um é livre para decidir a conduta que quer ter perante a vida. Mas se resolver aproveitar o período de renovação proposto pela páscoa, seu bolso e o planeta agradecem.
Antes e depois - 2x + durável sem esforço algum




segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ajudar ≈ Reclamar ↔ Reclamar ≈ Ajudar

“Melhor não me incomodar” é a resposta que tenho ouvido de vários incomodados não assumidos. Explico. Pessoas que são prejudicadas preferem a inércia à denúncia, permitem que o dano atinja a outros e não tomam qualquer atitude – mesmo sabendo que podem ter sido prejudicados devido ao conformismo de outros (prejudicados antes deles). Talvez apenas o dinheiro - indenização ou inadimplência - quebre esta regra.

Lembro de uma dinâmica na adolescência, em que se chegava à conclusão de que era mais confortável naufragar em um navio lotado do que sozinho em um bote. O contexto da época eram as drogas, os "amigos" que as ofereciam eram passageiros de um navio que estava afundando. Mas em trambiques são as vítimas cujo orgulho ou ganância não as permite divulgar o golpe de que foram vítimas: é mais confortável não ser o único "trouxa".

Somos solidários na tragédia e solitários nas vitórias. Perder em silêncio só é válido quando há uma disputa lícita, como nos esportes. Em qualquer outro caso, divulgar o ocorrido, principalmente às autoridades, é o mínimo auxílio que se deve proporcionar.

Ajudar, por sua vez, também é uma forma de reclamação, já que não deixa de ser a manifestação de sua contrariedade com o status quo. Ajuda boa é a que só precisa ser feita uma vez. Só oferecer ajuda, por sua vez, equivale a apenas contar a amigos e familiares o golpe sofrido: jogar ao vento a possibilidade de mudar, ser conivente com o que não está correto.