Dia desses uma amiga confidenciou-me que trocaria a
magistratura por medicina. Pediu-me segredo, não minha opinião. Porém, agora
que parece ser fato consumado, sinto-me livre para publicar minha reflexão a
respeito: mera troca de seis por meia dúzia.
Nada a ver? Tanto o médico quanto o juiz só são procurados
quando há problema envolvendo a vida das pessoas; eles não podem recusar-se a
atender, mas por diferentes motivos técnicos, “indicar um colega” é um
atendimento considerado correto.
Pode-se afirmar também que o prestígio social das duas
profissões se equivalem, e que nunca trabalham sozinhos, apesar de socialmente
receberem o mérito do que é feito por toda a equipe. Enfermeiros,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos obrigatoriamente interagem e cuidam de seus
clientes. Médico pode curar sem precisar lidar com a pessoa, como ocorre com os
cirugiões. Da mesma forma, advogados, defensores e funcionários do cartório
lidam com as partes, juiz só as vê em audiência (quando há audiência), mas
parece que quanto mais distante ficar, mais valorizado é o profissional.
* * *
Fomos criados para substituir a escola pelo trabalho e o
trabalho por uma aposentadoria. A família em que você nascesse, o emprego e o
relacionamento que você conseguisse representavam tanto uma conquista esperada
pela sociedade como uma condenação por ela imposta.
Hoje mudamos de emprego, de profissão, de cidade, de
relacionamento, de família, de hobby. Na idade em que hoje temos filhos nossos
antepassados já eram avós. Ganhamos tempo de vida não apenas através da
longevidade, mas também graças à tecnologia. Somos a primeira geração a ter
essa conquista; à medida que vivemos vamos descobrindo no que utilizá-lo: em
mais trabalho e não dispensar qualquer momento refletindo se só há mesmo uma
única opção? Em mais lazer (e qual lazer?), desperdiçando oportunidades de
negócio?
Se existir resposta certa, será a única em que se consegue
responder sem ponderar fatores externos, passados e futuros – e que pode perder
sentido a qualquer momento. Afinal, quem consegue responder, de forma sincera,
o que realmente importa para si?
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