domingo, 28 de novembro de 2010

Etiqueta Urbana

Em dia de chuva, caso você resolva aguardar ela passar embaixo de uma marquise ou se estiver em um ponto de ônibus coberto, feche o guarda-chuva. Não adianta achar que com a inclinação a água só vai escorrer para um lado, ou que o pingo, ao cair no tecido, não vai respingar em quem estiver à volta. As demais pessoas também dispensam o banho que você não está querendo tomar.

Da mesma forma, distração tem limite: se ao sair de um prédio ou do metrô as pessoas em sentido contrário estão molhadas ou com guarda-chuva visível, não espere chegar na porta de saída, geralmente menor do que a demanda de pessoas, para procurar o dito cujo na bolsa...

Evitar dirigir rápido para ter tempo de desviar dos buracos e sempre longe do meio fio para não ensopar pedestres, então, nem se fala...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

para não ser trágico, deve-se tentar imaginar o cômico

A passos de uma tartaruga muito da preguiçosa o governo demonstra que não descuidou totalmente da inflação: a circular 3512 do Bacen, publicada hoje, amplia o percentual mínimo de financiamento dos cartões de crédito. Sabe aquele valor mínimo que pode ser pago na fatura? Hoje ele corresponde a 10% do débito, ano que vem ele será ampliado - uma forma de diminuir o crédito disponível e, sendo menor a demanda, frear a inflação.
Também hoje foi publicada a Resolução 3919, obrigando a divulgação ao Bacen, pelas instituições financeiras, com 45 dias de antecedência, a taxa de juros que será aplicável para quem financiar suas compras pelo cartão - é uma forma de "congelar" o aumento da taxa de juros por um prazo menor.
Fazia tempo que ir ao supermercado me tirava do sério por causa dos preços: em média o aumento foi de 20%, fora produtos que sumiram da prateleira, um sinal claro de que a negociação fornecedor x varejo ainda está em andamento.
Paralelo a esse contexto, de medidas cuja eficácia será verificada só ano que vem e de uma inflação não reconhecida pelo governo e (seria por causa das eleições?) nem pelo Bacen, jornais divulgam o estudo de um novo índice de inflação, que não conterá alimentos nem combustível em sua cesta.
Ah, tá...entendi a estratégia: meta de inflação sem considerar alimento e combustível. Lembro-me de um quadro humorístico cujo jargão era "não deixaram eu molhar o bico", bem apropriado para o discurso antes e após eleição.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Atrações paulistanas e gratuitas


A Bienal voltou a ter seu brilho próprio (ufa!). As obras mais polêmicas na mídia não foram as que mais me agradaram e certamente foi cruel deixar os corvos no meio de tudo – não há quem agüente, pessoa ou bicho, ficar exposto a tanto barulho.

Perdi as anotações que fiz sobre a obra da foto, de longe a que mais me impactou. À volta da mesa há pratos vazios. Nos pratos à mesa estão servidos feijões plantados e, ao fundo, uma boca feminina alimenta-se de brotos de feijão. Não havia indicação da inspiração do artista, mas para mim a ideia é de livre arbítrio. Está no segundo andar, voltei a ela várias vezes...

Os clientes de uma determinada operadora têm a possibilidade de ligar para o número indicado em algumas obras e, com isso, obter mais informação a respeito. Gostei dessa alternativa ao audio guide. Não sei se o serviço é pago, parece-me justo pagar somente pelo que se utiliza e razoável sua cobrança uma vez que a Bienal é totalmente free.

O que também está sendo cortesia esta semana (até dia 28) é o MASP. Trata-se de iniciativa da Samsung, que está patrocinando o ingresso dos visitantes desta semana. Parabéns à empresa. A exposição do subsolo está muito boa: “Se não neste tempo: pintura alemã contemporânea, 1989-2010”. Destaque para David Schnell, há tempos que não acontecia de um artista me deixar com vontade de levar todos os seus quadros para casa.

Up and Coming Tour

Escrever o óbvio é tomar tempo de mim e do leitor. Assim, de forma sucinta, além da diversão, a respeito de segunda-feira, fiquei contente de não ter trocado o ingresso da pista pelo da pista vip, pois esta tinha mais pessoas por metro quadrado que o resto do estádio e ia até a metade do campo (ao contrário das de outros shows, em que sua área é menor). Os tapumes em sua lateral não deveriam ser permitidos – como VIP eu estaria indiretamente concordando com isso.

A fauna à minha volta deixou claro que também de longe ninguém é normal, mas todos convivem bem, apesar do tiozinho mineiro que queria briga com quem fosse mais alto que ele e ficasse em sua frente.

A quem interessar possa – oportunidade de negócio para eventos em dia de chuva: “guardo seu guarda chuva, pague na retirada”. Na pior das hipóteses, se não vierem buscar, você terá um bom estoque para vender no próximo temporal.

A boa notícia foi saber que apesar da decoração de natal os passarinhos do Trianon estão conseguindo dormir: passei por ali de madrugada e as lâmpadas haviam sido apagadas.´

Após praticamente oito horas em pé, cheguei em casa contente e sem cansaço, às 2:50.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Agora voltando no tempo


Imagine uma cidade de interior cuja referência no guia de vigem seja “passagem para ponto turístico x”. Cheguei às 14:00 e o guichê que vendia a passagem para tal ponto turístico estava fechado para almoço até 14:30. Em frente à tabela de horário dos ônibus, pendurada no fundo do guichê de luz apagada, funcionava um ventilador de mesa. As pessoas amontoadas desviavam do ventilador na tentativa de ler alguma informação. A foto acima foi tirada na rodoviária. Mesmo assim, resolvi conhecer a cidade.


Quinze minutos foram suficientes para conhecer a rua do comércio, a praça com o coreto e surpreender-se pela boa conservação dos prédios antigos, em estilo português, alguns deles privados. Restaurante, aberto, só achei o do hotel, mas não considerei confiável a informação de que cozinhariam rápido o que eu pedisse. A atendente do caixa do supermercado recomendou-me almoçar na rodoviária, mas esta definitivamente não era uma opção para mim.

Retornando para a rodoviária, após ter saboreado meus biscoitos e refri admirando pescadores no rio, fiquei 50 minutos na fila até ser atendida. No contexto observado posteriormente concluí que tive sorte: a passagem comprada correspondia ao destino solicitado (conheci um casal que teve que voltar pois descobriu no desembarque que estavam no ônibus errado) e consegui comprar a passagem para o próximo ônibus (devido a fila, quem só tinha cartão como meio de pagamento teve que indispor-se com o motorista para fazê-lo esperar).

Vários foram os absurdos vivenciados em tão pouco tempo, resumi para não ficar enfadonho: a irritação inicial converteu-se em perplexidade por ainda existirem lugares e pessoas como aqueles. Por motivos óbvios não estou indicando por onde estive...
Em um reino não muito distante do descrito, mas também de um ritmo diferente do que estou acostumada, "entrei no clima" e brinquei em seu jardim. A foto abaixo é a minha homenagem aos que me aguentaram no feriado repetindo igual criança (afinal, sentia-me retornando no tempo): "quero entrar no castelo", "já entrei no castelo, sabia?", "tira uma foto de mim no castelo?", "você já viu as minhas fotos no jardim? E as no castelo?".


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A relevância do título de eleitor

Agora posso contar: quando fui votar o eleitor que estava na minha frente, de nome Fernando, foi informado que constava que ele já havia votado. Ele olhou o caderno e constatou que além do sistema que recusava seu título, seu comprovante de votante não estava ali. Observou também que outro Fernando, abaixo de seu nome, havia assinado mas não havia levado o comprovante. O mesário, então, digitou o nº do que levou o comprovante errado e percebeu que para o sistema ele não havia votado. Bingo!

A mesária registrou o ocorrido como "o Sr. Fernando esqueceu de levar o comprovante dele", afinal, todos concordamos que a urna não podia ser anulada, a rigor, o procedimento correto considerando a possibilidade de fraude. Não adiantava a mesária ficar dizendo "foi no meu horário de almoço". Tinha só duas pessoas e nenhum fiscal de partido, muito diferente de eleições de anos atrás, com participação de fiscais dos mais diversos partidos, me senti a própria marionete e tive reforçada a percepção de que ninguém estava levando a sério estas eleições; que medo a escala de valores das pessoas estar negligenciando a democracia...

O Erro relatado ocorreu porque o distraído Fernando não levou o título de eleitor, cujo número é digitado antes do voto, mas deixou de ser obrigatório na véspera. Ao apresentar o RG o mesário utilizou o comprovante de votação para saber qual número deveria digitar. Como foi destacado o comprovante errado, votou em nome de outro por engano. Sorte que o outro foi votar, se não tivesse ido ele ia ter contas a pagar com a Justiça Eleitoral. Contudo, permaneceu com um comprovante que não lhe servirá para nada e deixou seu xará também sem comprovante.

Refleti muito sobre isso, até mesmo se deveria publicar a respeito, mas decidi que não poderia manter o "segredo" entre eu e os demais três ali presentes.

Lembrei-me de um documentário sobre o julgamento da liberação do aborto de anencéfalo, no qual a mãe, de origem humilde, chamava-se Severina, mesmo nome de sua mãe e de suas avós, e era casada com um Severino, cujo pai e avós tb chamavam-se Severino. E se todos estiverem na mesma seção eleitoral e fossem votar só com o RG em momentos diferentes? Pura sorte o mesário acertar...

Temos a vocação legislativa de protelar aspectos polêmicos das matérias reguladas e polemizar o que está estabelecido: resta ao judiciário legislar. Minha experiência profissional há anos vem me mostrando que qualquer planejamento e estruturação exige o desenho do todo, como todos "ses" para haver chance de não ter erro, antes de se escrever uma política. Qualquer melhoria tem que considerar o esboço anterior, geralmente a questão já foi risco discutido e assumido anteriormente.

O título de eleitor certamente não existe por acaso, a decisão de torná-lo opcional foi mais uma emenda desestruturando um sistema que funcionava bem, planejado em seu todo.