sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Noites sem dormir

Várias cenas inusitadas e um roteiro surpreendente (ainda mais para quem sequer havia lido a sinopse) deixaram-me satisfeita pela escolha do filme. O mais impactante deu-se após a sessão: descobri que a história era baseada em fatos reais! Os outros filmes do festival não causaram o mesmo efeito. Ainda hoje, passados vários dias e filmes, basta um momento tranquilo e cenas voltam à mente. Percebo que começo a compreender seu título...

A visão que estou adquirindo através da produção ficcional certamente contribui com o momento reflexivo: sabemos, ao abrir um livro, sentar em frente a uma tela ou ouvir uma história, de que são contextos diversos da realidade. Mesmo assim podemos nos envolver com a ficção. Sabemos também que em algum momento a história acaba e retornaremos para a realidade. A confiança de que não haverá envolvimento (ou o alívio de não estar acontecendo conosco) leva-nos a acompanhar até o último ponto final e a abrir mais um livro, ir mais uma vez ao cinema ou a continuar ouvindo histórias.

Lembrei-me, então, de uma fábula que li há algum tempo: o lobo, ao observar sua sombra, em tamanho bem maior do que o real, ficou confiante de que não precisaria fugir do leão e acabou pego. Moral da história: “não permitam que suas fantasias o façam esquecer da realidade”.

A realidade é de que na vida tudo é possível. Aprendi que limitação existe na ficção, pois tanto a narrativa quanto os personagens precisam ser coerentes para que os outros consigam acompanhar. Na vida cada um tem a sua coerência, impossibilitada de extinguir a coerência do outro sempre que há confiança. A criatividade é apenas uma ferramenta real que todos têm para conduzir a vida. Esclarecer o contexto em que será empregada – e antes de sua utilização – é crucial para a consequência de seu uso ser positiva ou negativa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vexame

Ainda estou com os braços tremendo.

Hoje teria sido "mais um dia", comemorado talvez com as descobertas feitas enquanto esperávamos a professora que estava atrasada. Contudo, ao chegar em casa, percebi que o carro estacionado ao lado da minha vaga estava diferente. Resolvi confirmar, pelo espelho do carona, o que faço automaticamente com alguma frequência - e não encherguei espaço entre as duas latarias.

O único reflexo, após baixar o vidro e confirmar a imagem crítica, foi puxar o freio de mão e desligar o motor. Não consegui raciocinar como resolveria aquela situação. Quanto mais olhava, mais angustiada ficava, os braços amolecendos e com leve tremedeira...Precisava sair dali!

Pedi ao porteiro que ligasse para o proprietário do veículo. Ele não sabia de quem era e eu precisei retornar à garagem para anotar o número da vaga e o modelo do carro. Informações anotadas e repassadas, descobri que a lista da portaria não continha a relação vaga x apartamento, mas sim apartamento x vaga. Como procurávamos exatamente o apartamento, os números e letras das vagas pareciam se repetir e eu só enchergava o relógio marcando 22:05.

Finalmente o vizinho desceu. Seu olhos arregalados ao ver a cena pareceram ainda maiores atrás das lentes que lhe corrigiam a miopia. Percebemos que ele não teria como entrar no carro. Aceitando o pedido de desculpas e demonstrando uma compreensão impensável por ter tido que sair de casa àquela hora por motivo que participação alguma tivera (o carro dele estava bem estacionado), ajudou-me a sair daquele sufoco. Não foi nem preciso manobrar; se eu não tivesse olhado pelo espelho teria estacionado normalmente. Ainda bem que nos outros dias em que "agi no automático" não arranhei lugar algum.

domingo, 18 de setembro de 2011

1, 2, 3, era uma vez.


Ainda sou da opinião de que infância e televisão (e por que não, Internet?) não combinam. Semana passada, no entanto, em um “momento infantil”, surpreendi-me. Os personagens do desenho perceberam que seus amigos haviam sumido. Reuniram-se e foram investigar. Para conseguir cada pista, precisavam fazer, repetidas vezes, uma coreografia no estilo “cabeça-ombro-joelho-e-pé” e incentivavam a criança a ajudar na busca da pista imitando-os. No final, veio a descoberta: as amigas lagartas haviam se transformado em borboletas e os amigos peixes eram girinos, que se transformaram em sapo. Jeito fácil de educar e estimular a criança sem deixá-la ansiosa ou eufórica.

O intervalo durante o desenho, contudo, foi de “deixar de cabelo em pé”: além de brinquedos pouco educativos e caros (sei porque já os vi ao vivo na casa de outra amiga), no anúncio da programação, uma voz de menina dizia “chame a mamãe, chame o papai, vamos dançar juntos”, ou algo do gênero.

Note-se que a ideia de “babá eletrônica” para canais infantis é um engodo. A criança não vai ficar quietinha assistindo por muito tempo, ela vai chamar o adulto que estiver por perto e ele vai ter que participar. A coreografia, que dura segundos, será suficiente para informar de qual desenho a criança gosta (no inconsciente dos pais ficará a sugestão para a decoração de aniversário, presentes etc).

Tranquilizou-me um pouco saber que os desenhos atuais estão melhores que os de minha época, os quais definitivamente não eram exemplos para quem fosse viver harmoniosamente em sociedade – minha principal bronca é com o Popeye (diálogo zero, a Olívia não tem opinião própria, vai com qualquer um que ganhe no muque, os amigos – Dudu e Alice – comem compulsivamente hambúrguer e banana respectivamente – e Popeye só come espinafre, motivo de muitas mães a-d-o-r-á-l-o); nos outros desenhos os personagens são solitários (acho que só o Jerry às vezes tinha um outro ratinho ajudando-o).

O fato é que para a criança não ser um alienígena dentre as outras crianças de sua geração, terá de assistir aos desenhos. O ideal seria poder escolher previamente as histórias que seriam contadas à criança - e sem expô-la à publicidade. Vamos torcer para que esse modelo de negócio surja por aqui: pagar por filme, seriado ou desenho, não por canal ou conjuntos de canais, ou poder baixar ou encomendar um DVD só com as histórias escolhidas, tal qual se faz com as músicas.

sábado, 17 de setembro de 2011

http://www.indiefestival.com.br/2011/sp/

No site acima consta toda a programação do Indie Festival, mostra de cinema internacional. Todos os filmes são gratuitos, mas recomendo a leitura da sinopse antes de aventurar-se a uma sessão. Gostei dos três filmes que assisti até agora, mas nos três ouvi gente roncando e nos três houve quem saísse no meio da sessão. É para quem quer ouvir uma história diferente, contada de um modo e tempo não convencional.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Difícil existir alguém que nunca tenha desdenhado. Desdenhar é burrice. Para concluir que algo não lhe convém, primeiro foi necessário imaginar-se em seu convívio - o melhor é ficar quieto se nada lhe perguntarem.

Se você não quer, agradeça quando lhe oferecerem. Simples assim. Se mudar de ideia, será mais curto o caminho a percorrer. Poderá parecer mais difícil porque desejo e expectativa ativam ansiedade e desaceleram o tempo. Mas lutar para conseguir o que se desdenhou, além de incoerência, exige a coragem de expor-se; dizer a todos que assistiram ao seu desdém a boa nova: você quer, mas não sabe se vai dar conta, você quer, mas não sabe como conseguir.

domingo, 11 de setembro de 2011

Penetra

Ao passar, sem querer, em frente a um coquetel, aparentemente sem ninguém vigiando a porta, você:

a) procura alguém do staff e pergunta se pode participar;
b) entra sem fazer cerimônia - no máximo te pedirão para sair;
c) observa o evento e seus participantes antes de decidir se correrá o risco do vexame de ser barrado;
d) certamente você nem perceberá o coquetel - é falta de educação passear olhando para dentro dos imóveis.

Todas as quatro alternativas acima, pelo menos uma vez na vida, deve-se experimentar - a quarta apenas em ambientes formais . Se houver cúmplice, não exite em adotar o comportamento descrito em  "b". Risadas são certas pelos próximos anos.

Já faz alguns dias que sinto vontade de comer brigadeiro (o "negrinho" gaúcho). Para variar, achei muito caro os de confeitaria (estavam custando mais do que uma lata de leite condensado inteira). Por outro lado, se fizer uma lata, é mais fácil substituir refeições para comer o que restou do que guardar para outro dia...Além disso, o manequim 36 continua sendo uma meta legítima.

O brigadeiro de colher em cima da mesa mereceu destaque tão logo eu passei pela porta. "Será que dá para entrar?", ouvi. Na dúvida, caminhamos um pouco ao redor e fizemos uma parada estratégica no banheiro, que ficava no meio do caminho. Entramos. Tudo estava muito bom, preocupáva-mos em descobrir o motivo da comemoração quando uma funcionária, de forma gentil, nos convidou para entrar na próxima sala, pois a sessão iria começar.

Breve momento de tensão: as pessoas apresentavam ingresso e entravam. Não tínhamos nada, nem havíamos planejado ficar mais tempo por ali. Quando chegou a nossa vez, não lembro ao certo o que eu disse, mas o rapaz nos deixou entrar sem ingresso.

O constrangimento, inexistente para o coquetel, apareceu. Simplesmente não conseguimos ir embora e ficamos para assistir ao filme. Um entusiasmado apresentador informou-nos que se tratava de produção de grande sucesso em 1976 e que sua duração era de 141 minutos.  Gostei muito e fiquei para o debate, que foi extremamente oportuno para um de meus textos "engavetados". Apesar da inicial transgressão, cheguei em casa sentindo-me apenas uma obediente criatura sujeita às coincidências da vida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Para quem for ao MASP, na exposição que está no subsolo, não deixe de ver o filme. Eu passei por todas as obras perguntando-me "E daí ?", com o filme acho que compreendi.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Razão, emoção, coração...

Fato é fato. O que aconteceu e o que ocorre, não tem como ser alterado. Divergências, quando existem, restringem-se à interpretação de fatos - e só com o passar do tempo é possível verificar a compreensão mais adequada. "Certo" e "errado" são opiniões: "ele concorda", "ele discorda", "ele estava certo", "ele estava errado" - são apenas fatos. Por orgulho ou vaidade é que ouvimos ou dizemos "eu não te disse ?" (apostas são outro contexto, tal qual uma exceção que confirma a regra).

Aos que se omitem (com medo de errar?), aos que insistem em dedicar sua vida - ou parcela dela - negando fatos e aos que persistem no que acreditam, sejam ou não ansiosos em alcançar um determinado resultado, eis aqui mais uma daquelas histórias Astrodienst (disponível em www.astro.com) que demonstra como somos previsíveis:


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Boca no trambone

Durante quase três semanas, nos horários mais impróprios, fiquei recebendo ligação telefônica de um mesmo número. Tocava duas vezes e parava. Liguei algumas vezes para o tal número e só ouvia mensagem de que estava fora da área de cobertura. Confesso que demorei um pouco para perceber que a chamada era sempre da mesma linha: até torpedo enviei avisando que estava com dificuldade de dar retorno!

As tais ligações intrigaram-me e conclui que sua origem deveria ser algum presídio. Mais do que ficar alerta, decidi fazer um boletim de ocorrência. Antes, porém, de eu conseguir a informação quanto ao procedimento correto (se teria de ir a uma delegacia ou se seria possível registrar via web) atendi o telefone a tempo: tratava-se de uma promoção da operadora. Aceitei a fidelização em troca do desconto e fiquei mais tranquila, feliz de não ter perdido tempo e de ter evitado o constrangimento de denunciar a operadora à polícia.

Passaram-se os dias e, ontem de manhã, ligaram para a minha família, em um telefone que não utilizo desde 1996, anunciando o meu sequestro e gritando ameaçadoramente as violências de praxe. Isso exatamente em um horário em que eu estava sem celular e longe de qualquer telefone. O trote foi reconhecido logo, mas na dúvida a família resolveu ligar para mim...e eu não atendi. Por outro lado, quando cheguei em casa, percebi que não era normal tantos números famíliares em um curto espaço de tempo. Não tive coragem de ouvir as mensagens gravadas, resolvi ligar logo. Foi com muito alívio que soube o que se passara.

Coincidências costumam ser intrigantes ou cômicas, mas esta eu odiei. Com reflexões a mil na cabeça e muita tensão pelo corpo, resolvi espairecer fazendo algo útil e necessário: fui ao supermercado. "Hoje é o dia do crime", pensei, ao deparar-me com a seguinte imagem ao lado do caixa divulgado como rápido:


Resumidamente, parece-me que o risco assumido por quem se dispõe a praticar extorsão sem conhecer a vítima (que pode ser cardíaca e morrer devido à notícia do sequestro) não é muito diferente do assumido por quem expõem produto perecível em temperatura ambiente (tenho certeza que quem já comeu comida estragada me entende). Nos dois casos, o dano dependerá da saúde e do conhecimento da vítima, que só pagará se não perceber que está sendo enganada.

* * *

Fui alertada de que produtos defumados não precisam de refrigeração. O fabricante limita-se a informar na embalagem que, uma vez aberto, o produto deve ser consumido em 5 dias. Visitei alguns pontos de venda e em todos (inclusive no fotografado acima) os produtos estão expostos sob refrigeração. Questionei ao fabricante, via SAC, na quarta-feira, se o produto pode ir direto da geladeira do supermercado para o armário aqui de casa sem perder sua qualidade. Quando me responderem comunico aqui.