quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Reflexão a partir de um fato real

Aniversário marcado, convites enviados por redes sociais, torpedos e telefones, ninguém poderia ser esquecido. Várias confirmações em um dia mais movimentado que o costume. Apenas o dono do bar não ficou sabendo da confraternização e certamente por isso manteve as portas fechadas.

Local e hora combinados, adversidade identificada e prontamente resolvida pelo constrangido organizador ao indicar novo local. Mas a tecnologia não é tão eficiente em emergências e um cartaz foi colocado em frente ao bar fechado, indicando novo endereço.

A situação em si só já seria inusitada, não fosse o que o grupo denominou "a cereja do bolo": nosso segundo personagem, o vizinho.

Enquanto o cartaz era colado na porta do bar, indicando o "novo endereço do aniversário", o vizinho, sob efeito do jet lag e faminto, chegava em casa, saudoso de quitutes caseiros oferecidos pelo bar da esquina. Amigo dos donos, ficou surpreso com a informação na porta de "novo endereço" e resolveu conferir.

No novo endereço, pareceu-lhe estranho os donos não estarem, os garçons serem outros, o cardápio ter mudado... Pediu sua janta e ficou aguardando. Quem já esteve sozinho em restaurante sabe que é inevitável ouvir a conversa das mesas próximas. Com o nosso personagem não foi diferente e identificou-se ao aniversariante como seu convidado, pois foi o cartaz de aviso que o levara até ali.

Muitas risadas e algumas teorias. A estratégia de marketing de espalhar "novo endereço" em bares e restaurantes fechados pelos concorrentes, rechaçada logo por não ser ética, por exemplo, já é muito utilizada virtualmente; quando sites de busca apresentam páginas que não estão relacionadas ao objeto da busca, por exemplo, isso ocorre não porque defeito do software, mas porque o dono da página utilizou o nome famoso como palavra-chave de busca.

O suposto anonimato da rede leva algumas pessoas a assumirem ações e omissões que acreditam não ter coragem na vida real, mas a ética deveria ser a mesma. Assim como é possível em uma conversa avisar que se trata de uma hipótese, ficção, fantasia, brincadeira ou o nome que se queira dar, na Internet o produto que você escolhe chega até a sua casa. A interação real x virtual é cada vez mais intensa, não me surpreenderia a catalogação de uma nova patologia, a de pessoas que não distinguem o virtual do real, assim como há atualmente quem vive em um mundo que os outros não percebem - aliás, já há quem dependa da rede ou que prefira ela à vida.

Independentemente do contexto ou da preferência de cada um, o requisito para se ter liberdade de interação e convivência ainda é o respeito.

sábado, 22 de janeiro de 2011

"Programaço"

Minha intenção, influenciada pela boa crítica no jornal, era ver as obras de Baselitz, que estão expostas até dia 30. Encontrei a Pinacoteca em reforma e uma exposição melhor ainda: “Desenhar no espaço, artistas abstratos do Brasil e da Venezuela na Coleção Patrícia Phelps de Cisneros”, daquelas surpresas que te deixam com vontade de investir em arte e levar algumas para casa. O texto da curadoria faz toda a diferença para compreender as comparações, mas sua arrumação diverte até criança.

Baselitz está na Estação Pinacoteca, o vídeo apresentado com as reflexões dele sobre seu trabalho foi o mais interessante e apresenta trabalhos que me agradaram mais do que os expostos, só que o ruído causado pelas pessoas que visitam, mais o elevador abrindo a toda hora, tornam inaudíveis certos trechos. É válido também demorar-se um pouco no térreo da Estação, que mostra fotos “antes” e “depois” de uma turma de colégio argentino da década de 70, alguns deles desaparecidos durante a ditadura (para quem não é de São Paulo, a Estação Pinacoteca está localizada no prédio onde ficava o DOPS, totalmente reformado e lindíssimo, tendo sido mantida uma cela, para memória, espaço em que permanentemente há exposição relacionada a Direitos Humanos).

O outro museu da região, o Museu da Língua Portuguesa, permanece encantando na sua forma lúdica de apresentar os autores. O “homenageado da vez” é Fernando Pessoa, autor do poema acima. O formato é o mesmo das outras exposições: muita tecnologia e ângulos para as pessoas tirarem foto em meio a um “resumão” da vida e obra do autor.

A desvantagem do passeio é a de que, se você não quiser lanchar no bar da Estação Pinacoteca (única opção existente), terá que carregar seu lanche desde casa e saboreá-lo à sombra, entre as esculturas do parque da Luz, apesar do movimento.

Baseado em fatos quase reais

A paixão foi fulminante, dessas intensas de deixar adolescente com inveja. Ambos já com certa idade, decidiram casar-se. Na elaboração da lista de convidados a surpresa: ela ainda tinha sogro e sogra. Moravam em um município distante, é verdade, horas de viagem, mesmo por via aérea. Mas toda mulher tem seus caprichos e ela não era diferente: fazia questão de conhecê-los antes de marcar a cerimônia. Ou isso, ou tudo estaria terminado.

Em um fim de semana prolongado a visita foi feita, ela sabendo somente o nome dos sogros: ele, contrariado com a insistência da noiva, resolveu nada falar, para que a “impressão do primeiro encontro” fosse a mais verdadeira possível. Na mala, como possibilidade de presente, batons de tons diferentes, trufas e livros, tudo que fosse necessário para agradar a nova família.

A recepção foi calorosa, “bem-vinda nossa atual futura filha postiça” disse-lhe a sogra. Ela conheceu a cidade, as casas em que seu noivo havia morado, alguns amigos de infância, mas o “atual” permanecia lhe martelando a cabeça, e resolveu, ao despedir-se, perguntar para a Mamã o motivo de ter empregado o advérbio.

- Atual? Ah! É porque já tive várias. Filhinho sempre me apresenta seus novos casinhos, ele gosta de saber a minha opinião, mas é tudo fogo de palha...disse-lhe isso olhando-a com expressão de tristeza.

- Entendi, deve ser por isso que eu precisei tanto insistir para lhes conhecer, ele já tinha certeza do que queria. Era uma declaração de amor que eu não havia compreendido, obrigada, respondeu-lhe abrindo um sorriso feliz e sínico.

“Esta vai ser páreo duro”, pensaram ambas, que ficaram amigas e felizes por morarem longe uma da outra.
* * *
Outra da sogra, agora no casamento:

- Queria tanto um neto, mas com a sua idade acho que vai ser difícil, né?

- A senhora poderia ajudar-me a convencê-lo a aceitar a inseminação artificial, já que seu filho é vasectomizado. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cabelo

As passarelas do Rio mostraram a tendência outono-inverno para os penteados: estará moderno trança, coques e cabelos despenteados, prender a trança e não se importar com mechas "efeito frizz" então, será o "must". Desmarquei a cabelereira na hora, ainda surpresa com uma moda que desistimule o consumo.

Pensando melhor no público que segue as tendências, ela é extremamente racional: após alguns anos de reinado da escova progressiva, quem ainda estiver com cabelo deve estar precisando diminuir a química. Tomara que esta moda se estabeleça por mais tempo do que durou a ditadura do fio liso.

Concordo que com cabelo que não arma você pode sair de casa sem sequer olhar-se no espelho, vai estar sempre igual e nem adianta, você não consegue prendê-lo, mas minha convicção é de que o liso é o mais comum hoje por completa incompetência da indústria química em fazer cachos, pois ainda hoje nem penteado cacheado fica natural. Como eles não conseguem, dê-lhe divulgar vários nomes comerciais ao formol.

Em uma época em que não havia química, o que diferenciava a nobreza européia da plebe eram os seus cachos, ostentados através de perucas. E os cachos eram brancos, cor que combina com qualquer tom de tecido e não discrimina: não importa a cor do seu cabelo, um dia ele será branco. Pelo menos isso não foi copiado, em um país tropical em que precisamos trabalhar com roupas compatíveis apenas com o ar condicionado, pelo menos não precisamos usar peruca. É, sempre pode ser pior...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Na Internet, somos no máximo pré-adolescentes

Fui apresentada ao computador quando criança (sei que os contemporâneos a mim vão entender esta observação, pois houve época em que computadores significavam ficção científica). Em uma sala em que havia o de mais moderno, CPD da UFRGS, no intervalo das aulas eu jogava xadrez ou imprimia o biorritmo das pessoas; formava um desenho bonito de ondas no papel em formulário contínuo, utilizado para a impressão, que eu coloria quando os alunos vinham usar a máquina. Lembro ter guardado por anos o estudo dos meus primeiros 4 mil dias de vida e a fita cassete que continha o programa gravado. Eram dias de férias, como agora.

Só no final da faculdade o computador passou a ser útil e minha máquina eletrônica, com editor de texto, foi aposentada: trocava-se disquetes em que a mais recente jurisprudência era gravada por quem tinha contato no Tribunal (o que hoje todo mundo tem em um pen drive). Mas utilizar Internet diariamente, mais do que telefone, inclusive, só ocorreu em São Paulo.

Constatei que fará 6 anos que estou no Orkut, a primeira rede social de que tive notícia. Com tão pouco tempo de vivência, deveríamos ser mais prudentes em nosso comportamento cibernético, facilmente agimos como adultos mas sabendo tanto quanto crianças.

Duas situações fizeram-me refletir a respeito: Facebook e Wayn. Entrei no "feice" ano passado utilizando a mesma conta de e-mail do Orkut, só que a confirmação da senha, obrigatória para finalizar o cadastro, foi considerada spam e eu não consigo nem acessá-lo, nem cancelá-lo. Precisei abrir outro pefil para melhorar o relacionamento com pessoas que se consideraram preteridas por não terem sido adicionadas.

Em relação ao Wayn a situação foi mais crítica. Ele é menos popular no Brasil, trata-se de uma rede em que as pessoas falam sobre viagem. A idéia é ótima, inclusive ao cadastrar-se você fica como mapa mundi legendado: lugares que já foi, lugares que gostaria de ir, muito útil para planejar roteiros. O Brasil tem patrocínio de destaque, mas ao ler as sinopses das cidades brasileiras, não há conteúdo. Resolvi ajudar e escrever sobre São Paulo, pois muito melhor do que a foto de uma turista entre baianas na Sapucaí (propaganda da Embratur) é informação precisa, sem contar que o guia da SPTuris, na forma de revista eletrônica em português, espanhol e inglês, é excelente.

Tão logo escrevi sobre São Paulo comecei a receber mensagens de pessoas do exterior me oferecendo dicas turísticas para a cidade da copa de 2014 e dando o link do youtube com a propaganda institucional, que é muito genérica e pouco informativa. Pior, pessoas que eu nunca vi e pediam confirmação de amizade ficavam relacionadas como se fossem amigos meus, como se não fosse possível excluí-los (há o grupo de "pessoas que querem lhe conhecer", este sim anônimo a terceiros). Já pensou, o FBI à minha procura por eu supostamente ser "amiga" de um terrorista, só por ter sido por ele adicionada e recebido uma mensagem sua? Tive de sair e continuar lamentando o mau uso do dinheiro público...