quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2015 sem pisar no tomate

O efeito decorativo de 31dez
Escolhe bem, lembra que ele é bem exigente – disse a mulher ao senhor do meu lado. Enquanto ela se espichava para pegar a vagem, o homem mexia, mexia, e nada de escolher. Pedindo licença e sem esconder a satisfação, outro homem aproximou-se – que maravilha! Aqui é R$ 3,20 e na outra esquina queriam R$ 9,00 pelo quilo. Que lindo que estão! – rapidinho ele jogou o que encontrava dentro do saco foi-se embora abraçado ao seu trunfo.
Aproximei-me. Agora do meu lado estava uma senhora, reclamava que parecia estar comprando refugo, que preferia comprar na feira e só estava ali por ser mais fresco. Falava isso e escolhia no estilo brasileiro: aperta e depois joga na farta montanha, estragando tanto o que não quis quanto o que está em baixo e passará a apertar. Merece comer bem quem desdenha de tal forma da comida?
Este último dia do ano refletiu todos os outros: não adiantou organizar e preparar a ceia na véspera, a fome foi mais forte e a corrida ao supermercado nos últimos minutos, os mesmos em que todos os turistas e paulistanos da cidade foram ao supermercado, fez-se necessária para maquiar o improviso.
O ano foi assim. Muita informação nova e um marasmo silenciador beirando tédio. No que se foi exigente, não houve frutos. Os frutos havidos não foram como planejados. Reclamar das escolhas feitas também em nada ajudaria a melhorar o resultado (não vou dizer que foi ruim, tão pouco foi tão bom assim... música ambiente propícia, por sinal). Tal qual os tomates, definitivamente 2014 não deixa saudade.
A poucos passos dali me deparei com uma montanha fosforescente. Linda! Quem compra tomate verde? Além do supermercado em véspera de feriado, eu. Ao menos sabia o que estava levando. Vai ver era isso, “só” 2014 não foi suficiente para amadurecer e 2015 mudaria não só o calendário, como poderia ser mais uma tentativa de melhorar o ânimo enquanto amadurecemos nós – e não o entorno. 
Uma semana depois
Terminei o ano descobrindo que tomates verdes são mais pesados, mas bastou paciência para expô-los a todos os ângulos em uma semana de sol para ficarem vermelhos. Que em 2015 você acerte na escolha da receita, que dê conta de seu preparo, saiba a quem servir e encontre os tomates adequados à ela e à sua fome. 

sábado, 20 de dezembro de 2014

A ignorância de brincar com o perigo


A foto não é minha, segundo o G1 é do arquivo pessoal do fotógrafo Joilson Santos. Foi tirada em Itubera, Bahia. Não pedi autorização para sua divulgação, mas espero que indicar a origem permita que ela fique por aqui. 


Gosto de água em movimento. Fiquei paralisada algum tempo só imaginando a força dessa correnteza. Lembrei de um vídeo que compartilhei, de uma cabeça d'água no Paraná: as pessoas atravessavam um riacho pulando de pedra em pedra e, de repente, aumenta o volume de água e 3 são arrastados, caindo cachoeira abaixo, Em um minuto e dezesseis segundos de vídeo o caminho passa de lugar seco para uma extensão do rio.

A correnteza da água é a informação mais relevante que se deve ter seja em rio, mar ou cachoeira. Não é preciso chover no local para que as consequências sejam sentidas - sempre que a água estiver turva, desconfie e fique longe. A foto ilustra a reportagem que fala de 16 casas desocupadas por estarem alagadas - mas a imprudência do motoqueiro e do motorista da foto também são notícia: não raro ouve-se que carros e pessoas são arrastados. Mais importante do que a tragédia ocorrida é a tragédia a ser evitada.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Ainda não será na nova geração

- Tia, você tem vibrador?
- Você costuma perguntar aos homens se eles têm revista com foto de mulher pelada em casa?
- Não.
- E de onde saiu essa pergunta?
- De umas conversas aí.
- Perguntar a uma mulher se ela tem vibrador é como perguntar a um homem se ele tem revista de mulher pelada. Não tem motivo para essa cara de deboche: a resposta não diz muita coisa, nem interessa a ninguém. Pode ter e não usar. Pode não ter e gostar. Esse é um assunto íntimo que não diz respeito às outras pessoas. Não vou responder, volte a brincar com seus amigos.

* * *

Bem, este seria um diálogo possível, porém o que eu ouvi foi;

- Tia, você tem vibrador?
- O que é isso moleque? Que falta de respeito!
E o pré-adolescente saiu correndo com um risinho.

A tia era mais geração Y que geração X - por maior que tenha sido o susto desse tipo de pergunta em ambiente público, perdeu a oportunidade de tornar simples o que a sociedade complica.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cavalgada


Dia de sol em tempo seco. Horário de almoço em bairro residencial. A cozinha do restaurante, meu buffet favorito, atrasou e eu precisava estar de volta em menos de uma hora. Peguei um lanche e fui pro parque. Fazia alguns anos que eu não ia lá. Encontrei brinquedos novos - e sem ninguém por perto. 

Mais do que a rotineira fome, fui satisfazer o lado criança e brincar. Sm: se estivesse em uma academia com professor orientando seria exercício - entre árvores e passarinhos eu estava licitamente em um brinquedo, pois ao contrário do escorregador e do balanço, ali não tinha a placa "proibido para menores de 12 anos". Gostei desse da foto, tinha onde esconder a bolsa e o salto do sapato não atrapalhou em nada.


Ao contrário de outros aparelhos, uns quentes por causa do sol, outros em que não era possível descobrir o que era para fazer, este estava na sombra e foi instintiva a sua utilização, bastou sentar e me sentir trotando. Depois descobri que se chamava cavalgada, fazendo movimento lento "azeita" as juntas, fazendo movimento rápido vira aeróbico. Tal qual criança, empolguei-me por 5 minutos e depois fui fazer outra atividade - e sempre fui criança responsável e pontual.

domingo, 16 de novembro de 2014

Diálogo Real

- Professora, o fulano não quer falar com nóis.
- Com nós...
- Professora, o fulano não quer falar com nós.
- Já vou lá.
Ante minha cara incrédula, a professora, formada em letras, disse:
-Ah! Eu corrijo mesmo.

Como havia outros professores por ali, preferi não prolongar a conversa perguntando o motivo da correção não ser "falar conosco" e fiquei com mais um exemplo para ser contra a estabilidade do funcionário público: o contrato deveria ser por prazo determinado, sujeito a renovação mediante avaliação (atinge nota mínima, continua, não atinge, dá lugar a outro, tem nota alta, ganha aumento).

domingo, 9 de novembro de 2014

Gosto Duvidoso

Sefie Surrrealista? 
Fiquei decepcionada com a exposição de Salvador Dalí no Tomie Othake. Há mais sobre o artista do que obras suas - e as que estão expostas não são as mais conhecidas. A que houve há anos na Pinacoteca foi bem mais gratificante de estar. O ápice foi descobrir, após a única fila em que fiquei, que o motivo era tirar a foto acima, metalinguagem de uma obra dele. Já que estava ali... Ah! E eu não iria com criança, como muitos que estavam ali: até hoje tenho aflição vendo a cena em que cortam o olho de uma mulher (filme Cão Andaluz?) - que roda numa TV entre outras obras, sem qualquer alerta - e, no andar de baixo, a outra exposição é uma crítica ao editais de cultura, com fotos e filmes de "clichês adultos". 

domingo, 2 de novembro de 2014

Nova versão, antigos fatos

O DJ de um CD só denuncia que a festa é, sim, infantil. Reclamar do horário? Se os adultos de lá tivessem noção não deixariam as crianças acordadas até tarde e acostumadas com tamanho ruído. A qualidade do som, no entanto, sequer permitia que eu compreendesse a letra. Até que uma eu conhecia...mas tão politicamente incorreta quanto aqueles pais. Tocou tantas vezes que consegui pensar em melhor versão:

Atirei água no gato - to
Mas o gato - to
Não correu - reu - reu
Dona Xica - ca
'Dimirou-se - se
Do pulô, do pulô
Que o gato deu.

Ficou melhor? Ou em período de estiagem pensar em usar água para o que não for essencial também não dá?

terça-feira, 30 de setembro de 2014

O amor é lindo!

A história não é minha e não ocorreu exatamente assim:
 
A - Um pernilongo!
B- E dos grandes.
A - Desses você também gosta?
B - Eu também os estudo.
A - Tomara que ele te pique.
B- Você quer que eu receba uma picada de pernilongo?
A - Se ele te picar, ele não me pica - aí você vai poder estudar porque eu não vou precisar matá-lo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Em outros tempos eu chamaria funcionários para espantar as pombas. Continuo não gostando delas, mas tá calor, né? O clima está seco...deixa pra lá, não comprei nada que não fosse industrializado mesmo. Bom final de semana.


domingo, 7 de setembro de 2014

Atucanações

Atucanada. Palavra corriqueira que parei de usar, mas a melhor para explicar muita coisa. Por que parei de usar? Porque já chegaram até a insinuar que não era politicamente correta. Graças ao dicionário Aurélio livrei-me de constrangimento que nunca deveria ter existido e, na dúvida, ainda procuro outra forma para expressar-me. É, A expressão é mais antiga do que o logo do partido político e eu nem desconfio como são os pássaros tucanos para poder dizer se tem alguma relação.

A melhor forma de descrever como eu estava final do ano passado é esta: atucanada. Já contei aqui que desde que percebi a ausência de endereço no IPVA não postado tem sido esta a minha escolha, buscá-lo do Detran e economizar o sedex. 

Ano passado não deu tão certo assim. O licenciamento foi pago no caixa eletrônico e, quando fui ao Detran, disseram-me que só com o código do tal papelzinho poderia licenciar o carro. Na virada do ano descobri a encrenca: não poderia pagar este ano sem ter retirado o documento do ano passado. E por não ter retirado o documento também não receberia de volta a taxa de inspeção veicular. Estressar? A vida seguiu em frente, uma hora eu acharia o tal papel.

Viajei, voltei e ao organizar a papelada da viagem o que encontro em minha pasta "não estornar"? Pois é, lá fui eu retirar o licenciamento do ano passado para pagar o deste ano. Descobri que não poderia mais retirar o papel verdinho de 2013 e isso não seria ruim: receberia o dinheiro pago de volta por ausência de uso do serviço. Se eu houvesse insistido até março ganharia o papel cuja prejuízo algum trouxe a mim (ok, poderiam ter apreendido o carro), mas como apareci depois foi só liberar o código no sistema e pedir o dinheiro de volta. Nada mal, a restituição da taxa de inspeção já quicou na conta, em até 180 dias verei o restante.

* * *

O comprovante de pagamento do licenciamento estava arquivado junto com a nota fiscal do processador que comprei e nunca consegui usar por soltar cheiro de queimado e fazer fumaça. Esta pendência eu não consegui (ainda) resolver: o prazo de 1 ano da validade foi pro saco, foi mais fácil comprar outro (de outra marca) do que ir atrás de assistência técnica (tá na "to do list"). De qualquer forma, evite Philco em sua casa.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Antes da Janta

Três mulheres e um homem. Cada um fez o seu pedido após certa indecisão frente ao caixa. Isso eu não vi, mas deve ter sido assim. Percebi-os sentados nestas mesas em que um dos lados é grudado na parede, dois sofás em cada lado. Conversavam monossílabos aguardando a senha do painel anunciar que o prato estava pronto.

 

Os números foram chamados em sequência, com algum espaço de tempo entre eles. Levanta, levanta, fica em pé, senta e senta. Decide em qual canto da bandeija vermelha ficará a garrafa verde da cerveja. Senta, levanta, senta. Decide como equilibrar a garrafa verde de cerveja e faz igual, dentro da sua bandeija vermelha. Levanta, levanta, fica em pé, senta, muda de lugar, senta e senta.

 

Murmurinho e ninguém come. As quatro verdes cervejas iguais. Ninguém bebe. Sentado do lado contrário à parede o homem estica o braço segurando o celular. Todos sorriem para a foto.

 

- Quer que eu tire? - Perguntei.

- Não, obrigado. É selfie mesmo.

 

As garrafas se enconstam. Nova foto. Um come do prato do outro, antes do seu. Caras e bocas que dariam ótimas fotos. A minha também. Trocaram a receita e tive que insistir para ganhar o copinho de pimenta. Mexicano com maionese? Não peço mais.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Transporte Público - a grama verde do vizinho, já que nele é refresco.

Desde o  primeiro dia percebi que precisava escrever sobre transporte público. Foram tantos os sustos (com este e outros assuntos) que só agora consigo organizar as ideias - pena que boa parte já estou esquecendo. Logo que cheguei, no aeroporto, providenciei o ticket de trem. No bilhete, ao invés de estações ou cidades, números. Nenhum horário, mas "válido a partir de + hora e data da compra". A sorte foi ter ido no guichê (depois soube que custava 2 Euros a mais, mais de 10% de acréscimo se comparado com a máquina que só aceita notas de até 20 euros). Tivesse eu comprado na máquina, não conseguiria chegar onde passaria o trem, nem identificaria o seu horário. Onde pensei que fosse, ninguém sabia se o próximo trem era o meu - muito menos consegui ler o nome que constava na frente do primeiro vagão; quando fui conferir no mapa já estava me confundindo com as cidades próximas. Subi tão confiante que bastou sentar para me pedirem informação, pois o som que informava conexões estava inaudível. No segundo trem (houve conexão) pediram para que eu respondesse pesquisa de satisfação do cliente, avisei que estava chegando naquele momento, mas o funcionário disse-me que precisava entrevistar todo mundo. Consegui dizer que considerava importante ter o fiscal dentro do trem, reclamar da falta de espaço para bagagem, mas esqueci de reclamar do que muito veio a me atrapalhar: as estreitas escadas para subir e descer dos vagões.
Qnt a mais vc pagaria para subir essas escadas?
Meses depois, acredito ter entendido a lógica: O ICE (alta velocidade) e o Intercity (que permite reservar lugar) são os trens que os turistas pegam e praticamente não atrasam. Depois há os regionais (mais de um Estado, mas com curta distância) e os locais. Os locais, que param em todas as bibocas, não têm primeia classe nem escada - e há muito espaço para rodas (bicicletas, cadeirantes e andadores). Peguei o local uma vez - o suficiente. O trecho que fazia em 50 minutos no regional durou mais de 3 horas no local. Nem dá para dizer que ele ande mais devagar, que seja possível ver melhor a paisagem, a diferença é o tempo em que ele fica parado nas principais estações e o fato de parar em todas. Atraso é a regra nos trens regionais e locais. Alguns fazem piada sobre isso, mas não chegam a reclamar. Dependendo do trecho e do horário, é tão lata de sardinha quanto o nosso transporte na hora de pico, com o peculiar detalhe de que nós somos mais limpinhos. No dia em que vim embora vi um ICE em Mainz, indo a Hamburgo, tão lotado que desejei poder voltar outro dia para saber se era sempre assim, ou conhecer mais o idioma para perguntar o motivo de tantos engravatados contorcidos entre andadores e bicicletas.

O fato é que os estudantes só usam o trem no trecho em que não pagam (a matrícula na faculdade dá direito ao transporte que passa em frente ao campus), os outros trechos são feitos de carona (praticamente não usam ônibus que não seja de linha - e mesmo o de linha nunca sabem o preço ou por onde passa). Fiz minha inscrição no Blablacar, site de caronas coletivas que foi recomendado e, um dia antes da viagem, quem ia me dar carona cancelou porque havia batido o carro e estava no hospital. Não tentei uma segunda vez. O discurso é ser ecológico, um carro com 4 pessoas é melhor do que 4 carros na estrada, pode ser mais divertido (você tem que colocar o quanto gosta de conversar, se aceita ouvir música e se fuma) - tem o mesmo poder de convencimento das explicações de que não há crise no país ante tantas pessoas procurando garrafas plásticas nos lixos ou das etiquetas vermelhas "Frisch" avisando que o produto in natura é fresco.


Bombeiros correram para debaixo da aeronave antes da foto
Na volta (Lufthansa), houve overbooking que não chegou a atrasar o voo. Após decolarmos, fomos informados de que havia um problema na asa do avião e teríamos que retornar. Foram três horas dando voltinha para despejar combustível (ainda estou em dúvida se escrevo perguntando se houve compensação deste impacto ao meio ambiente). Durante o dia eu ficaria radiante, acho linda a vista dos alpes suíços. A cena da chegada foi igual a dos filmes. Nos deram hotel, mas ainda não compreendi a diferença de tratamento entre os passageiros (eu ganhei taxi e não fui informada que haveria janta, quem chegou no ônibus fretado, uma hora depois, jantou). Foram 4 horas de sono e novo embarque. Fila para marcar a conexão. Mesmo avião, ninguém arrumou ou limpou, e uma passageira passou mal. Médicos vieram, ela desembarcou, as malas foram loclizadas - 1:15 aproximadamente testando nossa educação. Depois, forte turbulência em todo território brasileiro, de 3 a 4 horas. Não consegui comer o lanche e o comissário fez questão de recolher o pratinho em que eles estavam - desci da aeronava fazendo malabarismos. Nem passei no freeshop, tinha 50 minutos para o próximo voo. Só que este não era um dia para ser fácil, no eterno Galeão o desembarque é no 1º andar e o embarque no 3º: dos 4 elevadores, só 2 funcionavam - sempre dando prioridade aos cadeirantes. Especificamente, uma senhora alemã subiu e desceu enquanto eu esperava. No Brasil tudo deu certo, furei a fila, o funcionário nem percebeu que eu só tinha direito a um volume e deixou eu despachar 2, o voo saiu na hora e, até agora, não entendi porque o taxi que me deixou em casa acrescentou 3 reais ao taxímetro, após 30 horas de viagem resolvi nem questionar para chegar logo em casa.

* * *
 

As fotos das obras não ficaram boas, eis um breve resumo: o verão é a única época em que é possível fazer obra. Se planejar errado tem que esperar o ano seguinte, logo tudo para em função da obra - que só acontece em horário comercial. Em Freiburg, o cruzamento principal no centro da cidade, onde é possível fazer conexão das 5 linhas de tram, estava fechado. Você desce e tem que adivinhar onde a linha que você estava continua. Até tem placas e mapas, só que estão com etiquetas e pichações. Evite a cidade até outubro se não quiser ficar carregando mala/mochila. Em 3 meses, na estação de trem do campus, foi instalado um novo trilho e colocado letreiro e auto-falante. Cheguei com 2 e fui embora com 3 plataformas. No final, a estação de trem seguinte começou a ser reformada e, com isso, colocaram ônibus para fazer a ligação entre as estações e encurtaram a linha, obrigando-me a fazer uma baldeação para chegar em Frankfurt. O pior, no entanto, é que tem menos ônibus do que trem, quem não sabia (a maioria franceses) fica esperando mais de hora pelo ônibus. No dia que voltei das férias cheguei à noite, chovia muito e o pessoal, sem reclamar, saiu na chuva e ficou esperando no ponto do ônibus pelo menos 46 minutos. Tenho dúvida se aqui as pessoas aceitariam tão fácil essa condição.



quarta-feira, 30 de julho de 2014

Legendas III

"Drücken" significa pressione - também serve para impressão no papel. O motivo deste sinal estar aqui? A parte de cima também é para pressionar, mas destinada aos cegos. Ao invés de ouvir que está verde, a parte da flecha treme. A principal diferença fica por conta dos cruzamentos, em que às vezes mais de uma direção são possíveis: nestes - além do botão amarelo - há em cada lado botão com a flecha, de forma que pela vibração é possível compreender qual lado está livre para atravessar. Mesmo no país este modelo não pode ser dito como padrão, só vi em Wurzburg.

Já em outra cidade, o cruzamento segue a vontade do guarda que tem a chave. Vi isso funcionando há alguns anos em La Paz e foi um misto de dó do guarda que precisava cuidar do cruzamento sem piscar e com sol escaldante no lombo, com perplexidade de "atraso" - mais um mito que cai por terra...E aqui não é caixa não é fechada, as flechas à caneta é que informam a direção de cada semáforo (confira pessoalmente, é no cruzamento entre a Ferroviária e a ponte sobre o rio em Heidelberg). 

Em 1996 o vi pela primeira vez. Continuo gostando deste box futurístico. Não vaza uma gota de água, mantém rápido a temperatura mesmo sendo aberto em cima - solução para pequenos espaços, teria em casa certo.
 Só muda o lugar: nesta em outras casinhas muito simpáticas, sempre há uma placa atrapalhando, na única cidade com mapa em português brasileiro as fotos são sempre danificadas pela sinalização. Ah! Essa não conto qual é, mas na Alemanha foi a cidade medieval mais conservada que vi (e na Europa perde para Toledo, só).

 
 Essa placa está na vitrine de uma instituição parecida com o Procon. Vários livros disponíveis, todos pagos, para comprar e levar para casa. Peguei um panfletos e resolvi perguntar...Bem, consulta específica só com hora marcada: 15 Euros a hora. É, aqui o conceito de público é bem diferente: público é o que se pode ter acesso pagando, como banheiro.

Do museu sobre calculadora em Bonn eu ainda não consegui definir como descrevê-lo e qual foto escolher - mas esta era a única calculadora (e diferente das outras) no museu de Nuremberg (antes que perguntem não, não fui ao campo de concentração, já sei que não se deve sair matando pessoas). O método dessa calculadora do século XV é bem simples, as agendas antigas tinham esta tabela. Você liga as colunas com as linhas e descobre o resultado.
Além das horas, este relógio permite, através do globo terrestre (cilindro dourado) saber as horas em qualquer país. Os 3 cilindros prateados medem temperatura, umidade do ar e sensação térmica. 
Esqueça a bicicleta de rodinha, criança alemã tem este andador em forma de bicileta. Vi crianças bem pequenas, talvez com 3 anos, pedalando sem qualquer auxílio na roda de trás. Também faz as vezes de carrinho de mão.

Se é para pagar 2 Euros por meio litro de líquido, que seja algo diferente. Até agora não sei o que bebi, também não recomendo - mas eis aqui o registro. Também não dá para saber se é saudável (só que a produção seguiu padrões ambientais).


 

Pé de moleque daqui. Comprei ao acaso e nunca mais vi. Uvas passas e outras castanhas ao invés de somente amedoim foram um plus.


 

Muita abobrinha? Ok, fim da seção.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Legendas II

Por semanas sempre achei higiênico que os banheiros tivessem álcool gel dentro de cada cabine. A aparência é sempre limpa - mas esqueça o cheiro de produto de limpeza: de longe dá para perceber que no máximo passou água por ali. Percebi minha ingenuidade ao ler a legenda: o álcool é para limpar o WC, caso você queira. Banheiros por aqui merecem  crônica própria - vai ficar para depois. Essa foto foi tirada no de uma galeria chique em Dusseldorf. Sem adiantar as bizarrices, sabe quando se vai em evento público e a criatura que distribui o papel higiênico faz questão de ver se está em ordem antes de te deixar entrar? Nesse da foto tem um funcionário, vestindo roupa social com direito a gravata borboleta, que checa. Ele trabalha com luva cirúrgica e um spray daqueles que dizem perfumar o ambiente. A critério dele, o spray é disparado.

Assim como essas portas, são as janelas. Maçaneta para cima, abre em cima. Se chover, o vidro protege. Maçaneta para o lado, abre total para o lado, ocupa muito espaço do lado de dentro. Maçaneta para baixo, fecha. O vidro é duplo, igual ao que é vendido como anti-ruído no Brasil. Sou fã dessa ventilação só em cima: circula o ar e a correnteza de vento é mínima.  Talvez também ocorresse assim no Brasil. Falo talvez porque no dia em que fez um pouco mais de 20 graus os ambientes que não foram cobertos com cortina para impedir o sol ficaram insuportáveis. O termômetro do meu quarto, por exemplo, marcou 48º. O conforto térmico do frio é excelente, mas o do calor inexiste, tem que deixar a cortina fechada e ficar na rua até o sol se pôr. Como a parede é dupla, há um vão entre a parede externa e a interna, demora para frio e calor entrar. A água da chuva represada no subsolo circula entre as paredes ajudando a esfriá-las. Ar condicionado? Só vi placa no trem avisando que estava quebrado mas estavam providenciando o conserto.


A etiqueta vermelha de "-30%" significa redução no preço devido ao produto estar próximo ao vencimento. Dessa forma, na mesma prateleira há produtos antigos e mais baratos e produtos novos: cada um escolhe o que quer levar. Achei muito boa a solução: um código de barras que calcula o desconto sobre o valor do produto: se aumentar o produto, continua o desconto, se baixar - idem. O que eu não gostei - e agora estou mais criteriosa - foi ter comprado arroz integral (finalmente achei, após meses de procura) com mais de 60 dias de vencido. Isso foi no mercadinho da região, estava sinalizado o desconto, mas não imaginei que já estivesse vencido. No melhor estilo alemão, quando comentei o ocorrido, a reação foi de que talvez as regras tenham mudado - afinal se eu comi e não passei mal melhor que não tenha prejudicado a ambiente. Mas essa forma de reagir deles também merece outra crônica.

 Falando em compras, eis um registro de minha espera pelo trem. Considerando cada sentido, o trem passa de hora em hora. São 35 minutos para ir ao supermercado que fica em frente. Se atrasar, mais uma hora de espera - geralmente é o trem da ida que atrasa, ou a pessoa na sua frente que resolve contar moeda por moeda para facilitar o troco - proporcionando momentos lúdicos como esse, em que se consegue não apenas proteção ao vento com o vidro lateral, como acesso à única mesa e a um dos 2 bancos da estação.

Se fosse ao ar livre, como outras estações menores, seria pior, sem dúvida. É que simplesmente deixar as compras e voltar depois, assim como atravessar na faixa de segurança sem antes certificar-me de que o carro está parado (mesmo já tendo encarado caretas de reprovação) são hábitos aos quais não me acostumo. Todo mundo faz isso por aqui, quem quiser largar uma bomba terá o maior êxito. Mesmo em cidades grandes, como Munique, dá para ver cenas como a do lado, em que o mendigo deixou seu casaco marcando lugar.
 
Dentro da cidade, nada de velocidade. Senão, como você perceberia o que o xis vermelho está tapando? E o tempo de reflexão para compreender do que se trata? Caminhei à volta e nada de rota alternativa. Fazendo a conversão para a esquerda, em 3 quadras, há obras impedindo a passagem. Estou falando de uma cidade com aproximadamente 15 quadras, é provável que as pessoas já saibam que não poderão passar por ali - quem esquecer poderá fazer conversão tanto para direita quanto para esquerda, fiquei sem entender e feliz por não estar dirigindo. Por aqui não tem trem, só ônibus. Neste dia, peguei o horário de saída da escola. Uma graça: a garotada de 10 anos, no máximo, cada um sentado em seu banco, quase sem conversar. Ficam assim durante todo o trajeto voltando para a casa. Em outro dia, uma amiga colocou a compra do supermercado no banco e ficou de pé: foi advertida, pois é preciso dar o exemplo às crianças: quando o ônibus público faz as vezes de ônibus escolar, todos devem sentar.


Essa é a etiqueta tradicional, já tivemos no Brasil e, infelizmente, tem caído no esquecimento: há o preço do produto e o seu cálculo por uma unidade equivalente, para ficar mais fácil de verificar o que é mais barato (na foto, 1 litro custa 0,13 e em todas as diferentes etiquetas de preço de água mineral haverá o valor de 1 litro). A particularidade aqui é ser o caso "pfand" mais caro do que o produto em si. Retornando com a embalagem em qualquer supermercado é possível pegar os 25 centavos de volta, como já foi o casco de vidro. Aqui a água mineral é sinalizada ao contrário: tampa vermelha é sem gás, tampa azul com gás.


O pão nem é tão gostoso, há outros bem melhores, mas não resisti à experiência de usar a fatiadora. Enquanto em alguns lugares você aperta no botão ao lado da foto e o pão despenca na sua frente, aqui você escolhe na vitrine e, se quiser, antes de colocar na embalagem, coloca nessa máquina. São 3 grossuras de fatias e pode cortar também na horizontal. Quando acaba a função você pega com a mão e coloca nessa bandeja auxiliar, é dificil colocar direto da máquina dentro do saco.
 
Esse é o típico exemplo de "esqueça a aparência, o importante é o conteúdo e o prazer que proporciona". Não faço questão de doce, muito menos de cheesecake. Quando cheguei, esqueci que tudo fecha aos domingos e me vi sem comida. Aí descobri em uma das cidades da região, uma padaria aberta. Comprei um pedaço de cada variedade disponível. Foi assim que descobri este "Käse Küchen". Outro dia percebi que em breve ficarei sem, peguei o trem só para ter acesso a mais um pedaço, mas não tinha. Perdi a viagem. A fatia custa 2,20 - um pouco mais do que a média local - e vale cada centavo.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

NA CORRIDA

Esperei o feriado passar para ver se os costumeiros críticos da violência manifestavam-se. Só silêncio. Por aqui, comentaram da ausência de protesto e do clima de festa. Precisei comentar que a imprensa local (daqui) omitiu as BMWs amassadas. Conclusão 1: é a pancadaria da polícia que tem o seu espaço garantido na mídia, não o protesto. Conclusão 2: a quebradeira isolada, sem polícia, foi a superação de toda e qualquer burrice, para sempre haverá um fato real e incontestável a ser alegado como prova de que a origem da violência não é a polícia e que ela tem que ficar próxima às multidões.
 * * *
Achei um álbum de figurinha sensacional, uma promoção do supermercado. Tem foto dos ecossistemas brasileiros (ok, colocaram cerrado e pampas com uma cor só e na mesma legenda). Tem foto do tatu bola, de meninos jogando futebol no Leme e explicam que comer menos carne e embutidos ajuda a preservar a floresta. Só não achei as figurinhas, que servem também como carta de jogo e podem ser montadas e desmontadas em tabuleiros que podem ser destacados.
* * *
Venho tendo aulas de sistemas fotovoltaicos. Lição nº 1: cuide onde vai instalar para que não tenha sombra. Vi a foto do Mineirão e não acreditei: colocaram entre cada “string” (nem desconfio o nome em português) um muro fazendo sombra. Só para vocês terem uma ideia, em laboratório fizemos simulações e cobrindo 6% de uma célula (é um dos retângulos que formam a “string”) a produção do conjunto ficou reduzida em 40%, uma sombrinha boba e você recebe só 60% do que poderia – isso sem contar que para a energia solar valer a pena ela tem que ser consumida enquanto é produzida, pois estocá-la ainda é muito caro (ou fizeram investimento que ninguém faz ou não poderão usar a energia limpa no que mais consomem, nos jogos noturnos).
* * *
E o que são essas coligações políticas? No centro acadêmico daqui vota-se no aluno. Depois de eleitos (tem um número predeterminado de mais votados) eles decidem quem faz o que no grupo. Sei que no Brasil já houve algo parecido e não deu certo, mas do jeito que esse povo está se comportando, ia ser mais democrático escolhermos o vice, algo no estilo “vote no seu candidato do executivo: quem levar mais voto vira chefe, o 2º lugar ganha o vice”. Partido político hoje tá mero CNPJ.

domingo, 8 de junho de 2014

Breve Registro


Esta é uma embalagem de pasta de dente - não tem caixa, todas informações estão impressas no tubo plástico - sendo que aqui o tamanho é 75ml. Tanto esta marca quanto outras usam embalagem secundária (a de papelão) no Brasil. Não consegui encontrar motivo relevante para ainda termos a caixa. Fica para a volta, perguntar para os SACs o motivo.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Legendas


 
Se qualquer mesa de padaria, restaurante ou bar você encontrar este pote, saiba que ele é um lixinho para recicláveis. A ideia não é totalmente nova, eu sei. Em rodízios costumamos ter um prato improvisado, no centro, para "enterro dos ossos" - só que aqui todo lixo é separado, então o que você usar e puder ser reciclado (embalagens em geral), é para colocar aí. Ah! E se for um lugar em que leva a bandeija com prato até a lixeira, leve seu potinho também: ninguém quer sentar em uma mesa suja.



A estação de trem não tem porta, não tem funcionário, apenas uma sala de espera com alguns bancos, duas paradas de ônibus e esse banheiro, são 4 trens e 1 ônibus por hora (acho que as duas paradas são profiláticas, vai que um dia aumenta o movimento). Como tem que pagar, não cheguei a olhar se dentro é tão clean como por fora, só fico delirando se algum dia as cidades brasileiras terão banheiro público para que se possa caminhar com mais dignidade pela cidade. Mas como tem coisas que só se descobre convivendo, já vi muito marmanjo economizando no matinho não capinado do muro que fica do outro lado e um senhor que de todas as maneiras tentava abrir a porta e não conseguia (perdeu os 0,50 dele).

Quando crescer quero uma dessa!
Ao entrar você descobre que não há armário algum, o ingresso de mochila, bolsa etc está integralmente liberado. Na porta, o aviso de que o ambiente é filmado e duas antenas de segurança, para apitarem se algum livro sair. Mas também não pense que sempre fica algum funcionário por alí, cada um sabe de si. Ao lado do balcão estão banheiros - isso mesmo, dentro da biblioteca, no espaço reservado a livros, periódicos e dvds, onde é possível entrar com qualquer casaco ou sacola, há também banheiro de livre acesso aos leitores. Quase em frente, ainda dentro da biblioteca, há uma caixa com livros desatualizados e de ficção. No baldinho com moedas pede-se que sejam colocadas as correspondentes ao livro que você quiser ter como seu. As surpresas não param por aí. Depois que lhe disserem, será evidente que há uma sala dentro da sala de leitura. É lá que estão as impressoras e esta máquina...de escanear. Sim, você clica declarando que está cumprindo a lei, ajusta o livro entre as plataformas móveis e a folha fica escaneada. Pode colocar o dedão na borda que a máquina sabe que não é texto e não copia. UAU! Ainda estou tão emocionada com o "brinquedo" novo que não sei com qual texto usar, afinal a quantidade de livros em casa é ilimitada e posso sempre renovar - a não ser que alguém faça reserva.
 

Essa é para os desavizados de primeira viagem ou que não dominem o idioma: esses dois anúncios referem-se à mesma linha de trem. No quadrinho da direita, tem um só vagão pintado. Pois bem, haverá uma estação em que o trem se divide e cada parte vai para uma cidade diferente - se você entrar no vagão errado, dançou - além da possibilidade de pagar uma multa que começa a partir de 40 euros. Chegar em cima da hora nunca é recomendável.
"Ende" significa fim, eu sei. Passei pela placa sem dar bola à ela, ficava quase em frente a uma universidade, achei que tivesse relação com escola. E aquela era uma quadra longa, bem longa quadra. De repente, do nada, a calçada acabou. Precisei voltar tudo numa subida lascada, mas aprendi. Apesar das pessoas que vinham em direção contrária à minha, provavelmente saindo dos imóveis dali, presumo que signifique final de passeio, ou a indicação que aquela é a última oportunidade de atravessar a rua em segurança. Tem um outro sinal, com uma faixa vermelha em cima desse desenho, geralmente colocada em postes, de significado ainda desconhecido - na dúvida mudo de calçada toda vez que vejo. Poupa tempo e exercício.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Descobertas – o primeiro desabafo


Você passa anos ouvindo que é só comprar um chip por 10 Euros que você ficará para sempre conectada. Você até sabe que o segredo é pegar qualquer classificado e preencher o formulário com um dos endereços dali (não que esteja precisando disso). O que não te contam é que toda vez que o telefone celular é desligado você precisa colocar de novo a senha que vem no cartão do qual se destaca o chip. Mas você tem sorte, anota tudo e não joga nada fora. Quem exerce o desapego desapegar-se-á de mais 10 Euros.

 

Tudo vai muito bem, até você resolver que vai manter o Whatsapp tupiniquim, afinal é Internet, não é mesmo? Há! E você acha que o chip quer ser brasileiro? Mil tentativas e ele se convence, Whatsapp funcionando e...telefone para de funcionar, só recebe. O número da operadora dá numa central telefônica, você não entende. Ouve de novo e...o telefone não aceita mais ligar para aquele número.

 

Então você tenta a internet. Milagrosamente pelo glorioso Bluetooth o computador funciona com a internet do celular. Melhor, a tradução do Google te diz que a mensagem em vermelho na página da operadora avisa que a sua conta está bloqueada. Sem acesso à conta na Internet não dá nem para colocar mais créditos – isso porque colocar crédito significa comprar uma senha e cadastrá-la. Qualquer outra alternativa lhe custará 10 Euros e a provável perda do simpático número que recebe de bom grado ligações.

 

Mas o importante é ser otimista: afinal, depois de não ter como chegar em casa porque a linha de trem impressa no papel não existe e você não confirmou isso no site da companhia, ao menos o único orelhão visto em semanas ficava próximo à estação – quem lhe mostrou o orelhão sabia o telefone do taxi – e o whatsapp funciona. Sim, otimismo sempre.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Vendo a lua ao contrário

Era o segundo questionário, em apenas algumas horas. O primeiro fora mais simples, pôde ouvir a resposta dos outros e adivinhar as perguntas: queriam saber seu grau de satisfação com os serviços.

 

Com o bilhete que informava “de 474 para 470” em uma mão, e equilibrando a mala com a outra, foi possível dar o devido valor ao fiscal que lhe dissera onde descer (inclusive indicando uma baldeação que lhe poupou 15 minutos) e reclamar da falta de espaço para mala (talvez não conseguisse explicar, mas definitivamente ter que suspendê-la no pequeno espaço em cima dos bancos não era boa ideia).

 

O tom, o contexto, o local - tudo faz diferença na conversa. Perguntavam agora sobre sua vida. Melhor não criar caso, estava feliz por não ter precisado de tradutor. Horas depois, lhe perguntariam de novo, mas com a ressalva de que era apenas curiosidade, que poderia não haver resposta.

 

Assim, com discrição, ouviu parte da vida da outra pessoa, a que não se importava com a sua resposta. A outra, antes, que a tudo anotava, quis saber a sua religião. Não ter não era uma possibilidade – lhe foi atribuída uma. O espanto foi tanto que nem deu tempo de tentar revidar e usar a intérprete.

 

Perplexidade porque o óbvio ali não acontece. Perplexidade também pela obviedade do estranho. Depois, em uma vila sem trânsito, a briga entre carrinhos no supermercado. Onde não há dificuldade, os humanos as criam.

 

Chegar em casa às 18hs é qualidade de vida? E se a única opção for chegar em casa até às 18hs? Pontualidade é importante, sem dúvida –  principalmente quando o ônibus só passa a cada 2 horas.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

domingo, 30 de março de 2014

Mão exposta na janela pra...

Entendo que se deva ser neutro em toda pesquisa. Também sei que qualquer pesquisa com pessoas só pode ser feita depois de aprovada, sendo que no pedido é preciso informar o grau de constrangimento de quem é entrevistado - podendo a potencialidade do constrangimento atrasar sua aprovação ou impedi-la, mas em determinadas situações é uma lástima manter-se na estrutura programada.

 

Refiro-me a existir alguém (quanto mais o alto índice apresentado) que atribua à roupa ou ao comportamento da vítima o motivo da violência sexual (lembrando que não é só estupro que incomoda ou é violento).

 

Fica a dica para as próximas entrevistas estruturadas: pense que tanto "sim" quanto "não" são respostas e desenvolva outras, sem medo de ser xingado. Exemplo:

 

- O senhor costuma andar com o dorso nu: (   ) sim    (   )não

 

- De que forma o senhor costuma usar a camisa: (   ) dentro da calça   (   ) fora da calça

 

- O senhor considera que o comportamento da mulher incentiva o seu estupro: (   )sim  (   ) não

 

- O senhor considera que a roupa utilizada pela mulher incentiva o seu estupro: (   )sim  (   )não

 

- O senhor uso o dorso nu para que ele fique mais acessível ao toque dos outros: (   )sim  (   )não

 

- O senhor coloca a camisa pra dentro da calça para deixar a bunda mais acessível: (   )sim (    )não

 

Eu ainda acrescentaria o que o ser entende por violência sexual - porque xingar, passar a mão etc também são violência se não houver expresso pedido.

Lembrando que não é porque se está em uma festa ou no carnaval que se está à disposição para qualquer coisa com qualquer um, e que - como já vi muitas vezes - não é porque se canta a música que o abrir a boca seja tolerar um beijo.

O lado positivo da pesquisa é fomentar a discussão sobre algo presente na rotina brasileira, pena que ficou "só no estupro", pois tanto comentários sobre a vida alheia quanto forçar o ato em si são nuances de uma mesma violência.

segunda-feira, 24 de março de 2014

AtorMentados

Ainda não sei o que é verdade ou mentira, mas fiquei aguardando a divulgação de cada capítulo para ver se descobria. Se quiser rir, veja a série inteira - são 12 capítulos curtíssimos - e conclua (se puder) o quanto de ficção há.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Dando Bolo no Peregrino

Choveu muito e, em seguida, abriu sol. Foi uma semana de mudança de trajeto – uma buzina insistente lhe obrigou a olhar para trás e perceber possível tentativa de assalto, depois, ali próximo, uma mulher ofereceu carona no guarda-chuva e contou que tinha medo de passar naquele tão conhecido lugar. Entendeu o recado e mudou de caminho.

 

Algumas quadras a mais e dezenas de zumbis pelas ruas. O termo certamente não é o mais apropriado, mas como descrever pessoas em trapos, com olhar e andares vagos? Bem, novos caminhos, novas vivências. Em frente a um hotel, fãs de algum artista estrangeiro aguardavam. O pedinte tinha um isqueiro. Percebeu que os homens fumando não falavam português, dirigiu-se às meninas que lhe disseram “você não é mais pobre”.

 

Lógico que o homem ainda era pobre, a adolescente referia-se ao esculacho do programa da Prefeitura: moradia + 3 refeições + R$15 por duas horas de capacitação. Receber R$ 7,50 a hora, sem precisar comparecer todo dia e, mesmo assim, ter comida e casa garantida, nem profissional especializado consegue – resta saber qual o raciocínio para pensar que a pessoa vai largar o vício e essa vida para ganhar menos e passar por mais privações.

 

Raciocínio simples: R$ 7,50 x 220 horas mensais = R$1650,00, remuneração que o INSS já considera intermediária, com desconto maior: o trabalhador celetista tem pelo menos 6% de desconto de VT e, nesta faixa, já desconta 9% de INSS, ou seja, só quem ganha R$1941,00 por mês tem o líquido de R$1650 – mas ainda assim tem que pagar por moradia e comida.

 

É esperar para ver se vai dar resultado, tomara que dê, para não ser mais dinheiro jogado fora, privilegiando quem “chuta o balde” em detrimento do que se sacrifica. Doença? Em alguns contextos, difícil saber o que é mais doentio, se permanecer ou fugir, só que nesses contextos não se mexe, nem nos mais simples que atingem a todos.

 

Banheiro público a cidade continua sem. Daria dignidade a todo mundo e melhoraria inclusive a mobilidade das pessoas – não dá para pensar que obrigatoriamente as pessoas não saberão usar, nem achar que os estabelecimentos comerciais precisam disponibilizá-los.

 

Falta de banho dificulta a socialização de qualquer vivente, se não estão ainda exigindo que os empregadores ofereçam chuveiro, para melhorar a convivência dentro do transporte público, nada mal se houvesse a sua oferta desvinculada do pseudo cárcere privado dos abrigos – mesmo que sendo pago a valor simbólico.

 
Afinal, o que faz uma pessoa sair cedo de casa, ficar em média 2 horas de pé num transporte lotado, trabalhar o dia todo, voltar à noite, quase não ver família, viver em ambiente violento e, mesmo assim, seguir as regras sociais? Há estudos de antropologia baseados em uma ideia totalmente contrária ao programa, em que se valoriza o conhecimento de pessoas que dão certo, apesar das adversidades, como forma de compreender seus valores para multiplicar o modelo - mas recebem menos financiamento e vendem menos jornal, devem dar menos voto também.

 

 

“Situação de rua” dizem que é o correto, mas é também uma crítica a quem possa ter preferido as estrelas à sociedade. Aquele homem que abordou a menina poderia ser um desses, um peregrino sem vício ilícito, como sempre houve.

 * * *

 

Não era essa a motivação do texto, mas o bolo – ou melhor - os bolos deixados em cima de uma lixeira.

 

Como estava dizendo, sexta-feira choveu forte, depois abriu um sol muito forte também, ou seja, a lixeira de plástico, grudada no poste em uma altura superior a um metro do chão, deveria estar limpa quando colocaram dois bolos lindos, daqueles redondos, feitos no fogão, em cima dela. Duas vezes pelo menos 20 grossas fatias de um bolo dourado.

 

O lugar era bem próximo à faixa de segurança, em um cruzamento em que o pedestre nunca tem vez, é preciso esperar que o sinal abra e não venha mais carro – ou então que haja congestionamento para driblar as frenéticas motos.

 

Naquele horário não havia ninguém. O primeiro impulso foi querer chegar mais próximo, para sentir o cheirinho de fresco. Com sono se faz cada coisa... e se mais perto não desse para segurar a vontade de provar? Comer comida do lixo? E nada dos carros passarem, nem a vontade. Rato não subiria ali, barata facilmente, mas por que se daria ao trabalho com tanta oferta largada nas calçadas e sarjetas? Assim que possível, a rua foi atravessada e a lixeira ficou para traz. O desejo permaneceu como companhia.

 

Se a ideia era que alguém pegasse o doce, por que não embalou? Por mais que pessoas remexam o lixo, será que expor daquela maneira seria adequado? Não havia ninguém para oferecer, caso estivesse bom? E se não estivesse próprio para consumo, por que deixar ali? Por que a tendência é desconfiar do que é ofertado, ou do que se consegue sem esforço consciente, como se não houvesse merecimento ou fosse preciso desgaste para ser digno da benece?

 

Aqueles dois lindos e apetitosos bolos, em cima de uma lixeira teoricamente limpa, um deles encostando só no outro bolo, ainda incomodavam. Doação em dobro, feita pela metade. Alguém cozinhou muito mais do que precisava, ou estava de sacanagem colocando ali? Não são todas as perguntas que têm resposta.

 

 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Rosinho

Introspecção. Sabe o vazio do momento em que tudo é possível, a paralisia ante a pouca informação para priorizar a avalanche de conteúdo? O convencer-se de que há algo presente que deve ficar para trás?

 

O momento era esse, de aguardar.

Mais uma vez.

 

Uma medida de Leite condensado.

Chocolate geralmente em pó e/ou uma gema peneirada.

Manteiga ou margarina, bem pouca.

Misturar, mexer até desgrudar do fogo.

 

O de chocolate conhecia como negrinho, o sem chocolate era o branquinho. Receita de infância, daquelas rápidas, não tem muito que pensar, todo aniversário tem, e a criançada enrolando e não comendo vai aprendendo a ajudar e a controlar-se. Já foi assim, ao menos.

 

Avisaram ser politicamente correto, agora, “brigadeiro preto” e “brigadeiro branco”. Um horror referir-se assim ao doce! Silêncio, preconceito de quem, afinal? Branco é branco em espanhol; preto é negro e a fronteira nem importava tanto assim. Mas ali de nada sabiam, nem do “brigadeiro, gostoso e solteiro”, uma tentativa de conquistar o voto feminino no passado, época em que cada evento tinha seu doce.

 

Nada como o esquecimento para permanecer num céu de brigadeiro. Se melhorar, só estraga pelo tempo perdido sem. Conheceu, então, o de cor rosa – bicho-de-pé. Contaminado com anilina? Não, é que ele é bom como coçar o pé, não dá para parar. Tá. Coçar ocupa, não preocupa e o vazio é preenchido. Só, nem gema que alimenta tem.

 

Falam que saudade só há em português, mas em todas as culturas encontra-se sua manifestação. Difícil é encontrar leite condensado como o que temos aqui. Viver sem, sempre dá e há laços que nenhuma tensão rompe, nem a da convivência – por maior que seja a saudade do que já foi, por mais distante que estejam os negrinhos, branquinhos e rosinhos, eles nos acompanham.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Barbados

Já faz um ano que estive lá e, sem dúvida, voltaria. Na época, escrevi algumas dicas básicas, algo de 5 páginas, que as revistas de turismo não se interessaram em publicar e para o blog também não seria o melhor formato. Eis que me deparo com esta barbada, sim, clique e veja que eles captaram o estilo brasileiro: gostamos de promoção.

Se você quer sossego, vá.

Se tolera bem pimenta, vá.

Se consegue se comunicar em inglês, vá.

Se compreende regras de educação e as aprecia, vá.

Se aceita conhecer outra forma de vida, vá.

Conheci pessoas que foram casar lá, mas, sinceramente, não arranje problema para você casando no exterior, em um país sem qualquer vínculo.

É um lugar em que as pessoas te dizem com a maior naturalidade que conhecem o Brasil, já estiveram em Boa Vista, mas não, nunca ouviram falar de São Paulo ou Rio de Janeiro.

Uma das leis locais é proibir o uso de roupa com estampa militar: dá cadeia e, sem ler este meu texto, você só descobriria se fizesse check in com ela ou na delegacia alheia.

Fui parar lá para usar milhas. Escolheria de novo, mesmo sem conhecer as outras opções.

Mais não digo, surpreender-se com o diferente de um igual tão próximo faz parte deste destino e, se puder, traga para mim um rotis: do fast food local, indiano, feito com carne de vaca e curry (tá no meu top ten de gastronomia e tem também no aeroporto deles, pelo mesmo preço da cidade; a alfândega brasileira deixou entrar).

 

 

ok, ok, eis um dos itens de dica que escrevi na época:

 

O transporte público

 

 

 

Há três tipos diferentes de ônibus. Todos andam muito rápido e custam o equivalente a um “U.S.”, ou seja, dois dólares de Barbados. No ônibus público, cor azul, não é dado troco e não é permitido ouvir música alta. Ao lado do motorista há uma caixa transparente com uma tampa que lembra a de um cofre. Você joga o dinheiro ali, ele digita numa máquina ao lado e você pega o comprovante de pagamento impresso. Se o ônibus estiver cheio você pode pegar o papel, descer e entrar pela porta que fica no meio. A descida do ônibus também pode acontecer por qualquer porta e é hábito só levantar do banco depois que o ônibus está parado. Escolares lotam estes ônibus à tarde, pois não pagam passagem. Apenas em um trecho foram indisciplinados: o motorista parou o ônibus, levantou-se e ficou olhando os adolescentes até que lhe pedissem desculpa. Formou-se uma fila de carros, mas ninguém buzinou. Fiquei com a impressão que o trânsito e as filas só não são estressantes aqui porque as pessoas não reclamam, as fazem sem cerimônia e apenas esperam.

O ônibus amarelo é particular. Nele toca uma música altíssima, geralmente animado reggae. O cobrador dá troco e pode ser negociado pagamento em U.S. Só há uma porta, o que significa que pode ser que você tenha que sair e entrar para alguém descer. Uma buzina no som de “la cucaracha” ou “vamos a la praya” é freneticamente acionada enquanto o ônibus corre.

As vans brancas lembram as peruas que já existiram no Brasil – inclusive podem alterar o trajeto para conseguir um passageiro a mais. Também aceitam U.S. e têm cobrador, que não se constrangerá em pedir para você mudar de banco ou sentar no colo de algum conhecido seu para que mais pessoas possam entrar.

Se nenhum agradar, taxi é muito fácil de encontrar, o preço é fechado e previamente negociado, pode ser pago em U.S. ou Barbados.

 

segunda-feira, 3 de março de 2014

Delirando em jejum


- 5 anos sem um hemograma?

 

Afastava a apreensão mantendo-se em dúvida se o que mais lhe incomodava era a cara de espanto ante o ultrassom ou a condenação sumária à mamografia e, agora, mais essa: mas paciente é quem tem paciência, melhor não mencionar que nos cinco anos havia estado lá.

 

Os dias estavam difíceis, antecipou o check up em um ano de carnaval tardio. Quando finalmente atenderam do outro lado da linha, não conseguiu ler o que estava escrito. Digitalizou os documentos (sim, todos pediram o tal hemograma, com letrinhas ao lado, mas iria fazer uma vez só) e a clínica, além de poucos atendentes, também já estava sem espaço para receber arquivos.

 

Menos trabalho ir pessoalmente do que ir a qualquer outro endereço. Saia da rotina, sugeria o horóscopo da revista da recepção. Bem, era o que de certa forma iria fazer. Ela e tantos outros, alguns viajando, talvez os profissionais dali porque não, não era possível fazer tudo no mesmo dia – nem atendendo durante o carnaval.

 

Dos males o menor, havia compatibilidade entre água e jejum. E que sede vinha sentindo! Mais agora do que no calor, o calor que ainda fazia, é verdade. Caminhando, percebeu as duas câmeras e o vazio entre elas. De repente, “bom dia” e uma flor. O rapaz da câmera perguntou se havia gostado e ao responder-lhe passou um ruidoso ônibus.

 

Isso faz alguns dias. É que ouviu agora que a vida é feita de tempo, como também que o tempo sempre está lá. São as pessoas que o medem que passam, não ele.

 

E ela havia passado naquele vazio, não desviou, nem recusou a flor. Ficou de lembrança. Não se lembrou o que havia acabado de falar e tentar repetir não conseguiu, tivesse falado diferente, mesmo assunto, de outra forma, teria sido melhor. Fazer o quê? Na confiança de não haver edição, participou.

 

Agora, pensa que a edição não seria má ideia. Quem sabe um dia se veja – vai estar no YouTube, disseram. E ouvir é o que mais tem feito. Por isso sabia que pessoas estavam fazendo perguntas por lá, algo como “quer ser feliz?”, “quer ganhar na loteria?” e não recebiam respostas, ouviam negativas, ou o “obrigado” com entonação de recusa.

 

E se fosse pra valer? A flor foi uma surpresa, tal como a vida oferece. Com qual pressa caminham na vida pessoas que recusam felicidade ou o resultado da loteria? Foco ou alienação?

 

Romanos já tiveram a sua época, tempo em que só poderosos tinham roseiras: rosas só nascem uma vez, a não ser que sejam podadas. A escolha de um terreno destinado para o seu plantio, o cuidado em observar galho por galho e saber o momento certo do corte para que se perpetue a florada é simbolismo esquecido, não há momento que valha a morte de um ser, menos ainda rarear o que é belo.

 

Em vaso ou na terra, flores retomam o significado, são mais difíceis de serem mantidas – flores sem raízes não são feitas para sobreviver. Mas ali, frente à câmera, acha que agradeceu, não se lembra, afastava a pressa mantendo-se em dúvida no que falar.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Ainda dá tempo


Disposição é tudo: até o indisposto está disposto a não fazer nada.

 

Se você também não descarta qualquer possibilidade para a sua vida, certamente tem disposição – senão é rotina na certa. E da rotina para o tédio, para a chatisse...não vejo tanta diferença entre eles.

 

Do que estou falando? Tudo começou com uma apreensão minha ao saber que interagiria com uma australiana; pra mim um dos sotaques mais difíceis de compreender é o da Austrália.

 

Recorri ao alfarrábio digital, chamado Google, e deparei-me com os Moocs – Massive Open On Line Course. São cursos on line, geralmente sem certificação oficial e de graça. Não encontrei Mooc de universidade australiana, mas fiz um que não exigia conhecimento prévio, com direito a professora com sotaque mexicano fácil de compreender. Como tinha exercícios e os alunos corrigiam uns aos outros, treinei leitura e escrita também.

 

Não tenho como avaliar se o curso era bom porque eu ignorava completamente o assunto: posso garantir que foi um ótimo entretenimento e exemplo precioso de propaganda subliminar da faculdade. Tantas informações em tão pouco tempo - Fiquei fã.

 

Estou agora fazendo outro que mostra as reações do corpo humano a situações adversas: frio, calor, envelhecimento, estresse, etc. “Your body in the world” é o nome. A aula sobre calor parece óbvia, mas saber que não se usa roupa de algodão no frio foi algo que me deixou chocada. Mais não conto para você também querer participar  – e os vídeos desse curso têm legenda, que estão disponíveis fora da tela, ou seja, mesmo quem tem dificuldade com o idioma pode pegar um dicionário e estudar o texto antes, durante e depois do vídeo. Também dá para assistir sem fazer os testes (não vai ganhar certificado). Tudo depende da sua dose de disposição.

 

Enquanto o curso estiver no ar (acho que até final de fevereiro), estará aceitando inscrições. Há outras opções também, volta e meia novos cursos são oferecidos. Escrever sobre um assunto novo, responder questões – mesmo que de múltipla escolha  - sobre ele, tornaram-se minhas mais eficientes aulas de inglês. Pela plataforma também é possível conhecer outras pessoas no mundo que se interessam pelo mesmo assunto, ou seja, as conversas tendem a ser mais interessantes e sairão daquele vocabulário elementar.

 

Vale a pena conferir: https://class.stanford.edu/

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Ajeitando o passo

Saia justa. É essa a expressão usada. Nunca usou saia? Explico. Todos notam quando há saia justa. Se você está numa, você nem sempre anda como gostaria – pode precisar mudar a velocidade dos passos, também o seu caminho, pois escadas e assentos exigem cuidado. É preciso jogo de cintura para evitar constrangimentos,para que ela não suba ou para que ela não rasgue.

 

Por pouco não pôs saia. Os dias de verão estavam sempre com chuva, inevitável molhar-se - e pernas de fora são sempre mais agradáveis – secas ou molhadas – do que tecido grudando encharcado. Lembrou-se das escadas que subiria e desceria, lembrou-se do vendaval, e desistiu.

 

Saiu com sol, chegou com chuva. A sandália, que não estava justa, descolou. Faltava uma quadra. Havia o que fazer e havia horário. Viu o funcionário fechando a porta e gritou, ele deve ter pensado que estava machucada e aguardou, mas só estava cuidando para não tropeçar.

 

Horas passaram. Nem clips, nem cola resolveram. Alguns degraus e o outro pé também cedeu. Três corredores como opção para sumir dali. Andando pelos calcanhares, de tempos em tempos precisava baixar-se para arrumar o que o equilíbrio não permitia manter. Foi sábia a ideia de não usar saia. De repente, uma das solas descolou na altura do salto. Será que metrô aceita pessoas descalças? Se descalçasse não poderia experimentar nada na sapataria que fica em frente à catraca. Por mais limpa que a rua parecesse com a enxurrada, seu pé certamente não ficaria. O salto que não estava descolado grudou no chão e a tira embaixo da fivela rompeu.

 

Felizmente naquele meio-fio o acesso a cadeirantes estava garantido: arrastou os pés pela faixa lisinha da sinalização e atingiu a rampa. Só não contava com o relevo para os cegos: os dois pés foram ao chão. Com as sandálias dependuradas no tornozelo, esparramadas próximo onde os carros passavam, recompôs-se. Um rapaz solícito sugeriu barbante. Ele procurou, procurou e não encontrou nada que pudesse ser amarrado. Fumando ali próximo, uma mulher ofereceu o par de sapatilhas que estava usando, por ter outro na bolsa. Problema resolvido, mesmo sendo um número maior.

 

Até agora não sabe o que é menos provável: tantos estragos em tão poucos metros ou receber a oferta de empréstimo de um par de sapatos de uma estranha, com a informação de que sempre estava por ali e a promessa de devolver no dia seguinte. A sandália? Ficou lá, com suas lembranças - melhor nem arriscar com conserto.


 
Com quantas peças se faz uma sandália?