quarta-feira, 23 de abril de 2014

Vendo a lua ao contrário

Era o segundo questionário, em apenas algumas horas. O primeiro fora mais simples, pôde ouvir a resposta dos outros e adivinhar as perguntas: queriam saber seu grau de satisfação com os serviços.

 

Com o bilhete que informava “de 474 para 470” em uma mão, e equilibrando a mala com a outra, foi possível dar o devido valor ao fiscal que lhe dissera onde descer (inclusive indicando uma baldeação que lhe poupou 15 minutos) e reclamar da falta de espaço para mala (talvez não conseguisse explicar, mas definitivamente ter que suspendê-la no pequeno espaço em cima dos bancos não era boa ideia).

 

O tom, o contexto, o local - tudo faz diferença na conversa. Perguntavam agora sobre sua vida. Melhor não criar caso, estava feliz por não ter precisado de tradutor. Horas depois, lhe perguntariam de novo, mas com a ressalva de que era apenas curiosidade, que poderia não haver resposta.

 

Assim, com discrição, ouviu parte da vida da outra pessoa, a que não se importava com a sua resposta. A outra, antes, que a tudo anotava, quis saber a sua religião. Não ter não era uma possibilidade – lhe foi atribuída uma. O espanto foi tanto que nem deu tempo de tentar revidar e usar a intérprete.

 

Perplexidade porque o óbvio ali não acontece. Perplexidade também pela obviedade do estranho. Depois, em uma vila sem trânsito, a briga entre carrinhos no supermercado. Onde não há dificuldade, os humanos as criam.

 

Chegar em casa às 18hs é qualidade de vida? E se a única opção for chegar em casa até às 18hs? Pontualidade é importante, sem dúvida –  principalmente quando o ônibus só passa a cada 2 horas.

Nenhum comentário: