sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo!


- Você não é daqui?

- Por quê?

- É que seu CPF não termina com 8...

- Ah!

Em suma: quando você já está no clima de ver o congestionamento das estradas, apagões nos aeroportos, igual descaso com rodoviárias que nem são notícia, a confirmação de que vai chover no feriado (pelo menos para onde você talvez fosse) e convence-se com isso que sua opção de não viajar definitivamente foi a melhor, concluindo que não há mais nada a fazer a não ser esperar o novo ano, mesmo assim, ainda há tempo para surpresas...
Nos dias ditos normais, impensável tal conversa com pessoas aguardando na fila, talvez no caixa dos idosos (em São Paulo, as pessoas, no momento da compra, podem indicar seu CPF e, com isso, participar de sorteios e restituir parcialmente o ICMS pago). Por outro lado, entre o clima de natal e de ano novo, não ter a flexibilidade (ou tentar deixar o dia tão útil quanto os demais do ano) é disparate. Afinal, quem mandou ser a única a aguardar?
Se minha compreensão foi correta, desprezando o dígito verificador (que pelo o que eu saiba, é obtido através do cálculo dos demais números), o último número menciona a região em que vive a pessoa no momento que solicita seu CPF. Em São Paulo (não sei se cidade ou Estado) é 8.
E daí? Bem, que em 2013, se você for contrariado(a) por alguma notícia, que seja por seu conteúdo aparentemente inútil, que nas filas e nos momentos de espera, você já inicie sendo o(a) próximo(a), que as pessoas à sua volta estejam sempre alegres e você consiga lembrar de respirar fundo antes de falar ou agir, transformando com respeito o que não lhe agradar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

0 x 0

Haveria merecimento maior do que o sincero desejo? Discordava veementemente, não que tivesse deixado de querer, desejar o que sempre lhe parecera ser merecido. Faltava-lhe preguiça, sobrava-lhe prudência ante a aparente indiferença do mundo.

 
Ali, ele e seu computador somente. Ao contrário dos outros, sabia que Ctrl+z não o tornava melhor jogador, apenas garantia-lhe o resultado refazer, identificar exatamente em qual ponto tomara a decisão errada, por onde deveria recomeçar. De suas tentativas só ele sabia – e não queria saber de mudar.

 
Estratégias que dão certo devem ser mantidas enquanto não são perdedoras. Até aquele momento, 100% de êxito iludia-lhe o mostrador. O programa registrava partidas ganhas e não ganhas. Refazendo ganhava todas, desistindo, contava com a mesma sorte dos outros para vencer. E a isso não podia concordar. Afinal, apesar da prudência, faltava-lhe preguiça.

 
Pois, naquela tarde de temporal e trovões, tantos que espelhos foram cobertos e tomadas desconectadas sem dó, o pensamento lhe ocorreu. O corte de energia, o “99%” no placar não o tornou nem mais, nem menos prudente. Percebeu que também permanecia incansável e o Ctrl+z estava lá, funcionando: ainda seria o mesmo, mesmo com menos orgulho para ostentar, orgulho só dele e que para ele apenas existia.

 
Desligou-se, então, do jogo; não de suas conquistas. Refez a vida para conquistar o mundo. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

As próximas fotos terão melhor resolução

Noite sem chuva, pareceu apropriado ver a apresentação de natal na “fonte do Ibirapuera”. Não está muito diferente do ano passado. Dessa vez cheguei cedo e observei que o horário das 20:30 é menos recomendado do que o das 21hs por dois motivos: o céu ainda não está totalmente escuro e os vendedores ambulantes estão mais atuantes.
 
Além disso, pareceu-me que há mais adultos sem noção às 20:30. Sem noção de tudo mesmo, desde as visíveis cervejas a mais (provavelmente consumidas durante a tarde) até irresponsáveis acompanhados de suas crianças.
 
O raciocínio é simples: se a criança não jantou, se nenhum lanche foi levado para ela, não é óbvio que ela vai pedir qualquer comestível que lhe mostrarem? E, uma vez negado, a tendência a choro de uma criança com fome e cansada não é evidente? Vai reclamar pela situação criada? Não sei o que é pior, se a manha ou se a irritação do adulto. Os outros que não têm nada a ver com a história acabam participando daquele clima ruim; se eu pudesse colocava toda a família de castigo: já para casa, antes mesmo do início da apresentação!
 
Posicionei-me estrategicamente entre uma família portenha, que havia levado até uma esteira para sentar, e um casal com filho de uns 3 anos que estava no colo do pai comendo uma banana que a mãe lhe alcançava aos pedaços; cenário aparentemente com menos indício de confusão. Mas foi só o garoto olhar para o lado que o pai interpretou que ele queria uma espada. R$20,00 por um cano de plástico quase do tamanho da criança que piscava diversas cores. Outro vendedor apareceu e ofereceu um modelo menor, por R$15,00. Sucessivos lances reversos, no final a espada maior saiu por R$6,00.
 
O primeiro vendedor, que deixou de lucrar R$14,00, ao invés de sair dali e literalmente correr atrás do prejuízo, ficou resmungando que o importante era não perder a venda, que não ia deixar que se atravessassem na frente dele, melhor prejuízo do que ser passado para trás.
 
A mim pareceu ser burrice, que fidelização ele conseguiria em um show? Também acho que se ele estivesse convencido do negócio feito não teria ruminado por tanto tempo, ou ele pretendia gerar pena no casal para conseguir a diferença? Alguém já viu comprador arrepender-se de desconto barganhado? Ele que alegasse respeito ante o atravessador e, se o cliente não desse bola, que não perdesse tempo. Negócios, negócios, orgulho à parte.
 
A criança jogou tantas vezes a espada no chão que ela parou de piscar. Só que o esperto pai parece ter gostado da sequência de agachamento, pois ele ligou novamente a espada. Nem preciso dizer que aquela luz piscando ofuscava, no escuro, a visão da fonte. Mais sem noção ainda, o pai ficava repetindo: “filinho, guarda a espada para depois, vê a fonte agora”. Se era para a criança guardar, por que ligou de novo? Francamente, nem adulto quando ganha um presente desses tem essa disciplina... A mãe só filmava pelo celular, estendendo bem o braço e atrapalhando a visão da família argentina. O papai argentino, então, levantou-se e passou na frente da filmagem. A mulher nem deu bola, virou-se de costas e começou a filmar o filho com a espada. Resultado: nenhum dos 3 viu o final da apresentação. Eu, naquele momento, já havia decidid a ficar para a das 21hs, estava divertido demais as caras e bocas do povo à volta (e se eu insistisse em assistir ou em ouvir a música só ficaria irritada).
 
Foi assim que descobri a vantagem de ir às 21hs – mas se você acha que estou muito crítica em relação à feliz família, vá às 20:30. O importante é divertir-se e entrar no clima de celebração de natal.
 
Feliz Natal.
 
 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Uma pulga atrás da orelha


Durante anos passei em um cruzamento no qual um homem vendia panos de prato, tanto diferentes modelos com acabamento quanto apenas sacos alvejados. Nos dias de rodízio, percebia ele estacionando o seu carro e indo vender no farol.
No período de férias, um garoto, provavelmente filho do vendedor, ajudava-o mostrando os panos e dizendo o preço a quem perguntasse. Não raro, ele recebia dinheiro sem precisar entregar qualquer pano.
A melhor forma de desestimular o trabalho infantil é não o tornar lucrativo. Há retorno maior do que receber sem nada dar em troca? Eu sei que aquele garoto só ficava ali durante as férias escolares e nunca em dias de chuva. Mas será que os “esmoleiros” sabiam?
Vender exige técnica, empatia, muitas vezes conhecer o humano mais do que o produto. O vendedor é um profissional presente na rotina de todas as pessoas que vivam em sociedade, mesmo as que compram na Internet. O curioso é o sentimento de pena que gera em algumas pessoas, compram sem precisar, “só para ajudar”, quase como se não houvesse dignidade na profissão.
Vendedores ambulantes nas calçadas atrapalham o ir e vir de pedestres, vendedores ambulantes atrapalhando o ir e vir de carros previnem furto por dificultar a fuga.

Hoje, passando perto daquele farol, o vendedor ambulante era outro, vendia além dos mesmos panos de prato camisas e bandeiras do Corinthians. Mostrava a todos que possuía um daqueles terminais eletrônicos de cartão. O semáforo demorou muito, sinal que houve planejamento na localização, já que ele conta com um sistema de pagamento nem sempre ágil. Se eu fosse a única motorista perguntaria a ele se as vendas melhoram quando se aceita cartão: aquela maquininha, que tem custo mensal, desmistificou o “tadinho” -  aos que assim pensam ou agem.
Segui meu caminho curiosa em saber como ele mantinha a máquina, questionando se ele passaria a pagar imposto. Depois questionei-me se estava sendo ingênua em acreditar no funcionamento da máquina ou se estava sendo preconceituosa em imaginar a possibilidade de um “chupa-cabra” instalado. A lenda urbana dos camelôs do centro lá estarem para ajudar na venda dos lojistas, seja não fazendo concorrência com as lojas, seja vendendo produtos estocados nas lojas sem recolhimento de impostos, também ganhou força.
Quando der vou passar por lá de novo. Se ainda houver vendedor com terminal eletrônico para cartão, vou perguntar se é tanto para débito quanto para crédito e tentar obter mais informações – e depois conto para vocês.
 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Momento de inquietação

Eis que a fictícia pessoa resolve viajar para um local que é centro turístico no sentido mais amplo da palavra. Lá, tudo que faz é tirar foto em frente às mesmas lojas existentes em sua cidade. Um pouco para se sentir em casa, outro para consolar por diferentes motivos quem lá não foi.
Nas lojas, outras que não são as fotografadas, procura por cópia de produtos que não pode comprar – a marca impressa legível é a grande preocupação. Poderia adquirir similares, de qualidade tão incerta quanto a fake, mas só quem estiver próximo saberá - e o previsível é a superficialidade dos que pelo status afastam e se afastam.
Além disso, se roubarem, terá perdido menos em números absolutos do que se o original tivesse e conseguirá calar os invejosos que desconfiaram da pirataria (cálculos em números percentuais nunca serão revelados). A proporção gasto x orçamento não lhe interessa por ora.
Resta posta a questão: ter e não ter amigos que têm, não ter tendo amigos que têm, ter dizendo ter amigos que têm - demonstram não saber ter.
 
Trabalhar ou economizar para um dia adquirir a versão original nem pensar. Verdadeiro demais. Arriscado demais. Melhor exibir ano após ano cada coleção - compromisso demais escolher só um e com apenas um a vida toda ficar. E se não vale ter apenas um, por que imitar? Admiração não há, nem por quem cria, nem por que lhe olha, só a representação de viver.
 
Basta ser como se é - certamente já ouviu isso antes - não precisa ser diferente, mas e quando ser é o ter que não é?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Entre curtidas e smiles

Sei que tenho espírito crítico, o que vem me motivando a longas reflexões antes de tornar público alguns posicionamentos, mas ainda estou com a sensação de que algo está errado quando, ao responder um e-mail, a primeira reação é procurar o botão "curtir" e, a segunda, é sentir preguiça ou desânimo para elaborar uma resposta. Que perigo!
 
Conversando com professores soube que a maior dificuldade dos nascidos nos anos 90 é argumentar. Sabem dizer "legal", mas não conseguem verbalizar ou escrever o motivo. Se mesmo com esta estrutura de pensamento conseguem colocar-se no lugar do outro (a base do respeito), compreender outro ponto de vista sem ao menos saber qual é o seu, só os anos dirão.
 
É por isso que mencionei o perigo de não escrever, de tender a preferir apenas selecionar um único botão com os possíveis significados de "gostei", "legal", "ciente", "está certo reclamar", "absurdo" e tudo o que o outro quiser entender. Por enquanto "curtir" ou "não curtir" ainda não está disponível nos e-mails (apesar de ter vários smiles no FB), mas seria uma ferramenta e tanto se, ao permitir, por exemplo, o envio da confirmação da leitura, fosse possível acrescentar uma mensagem parecida com "fulano leu sua mensagem e gostou dela" ou "fulano leu a sua mensagem e resolveu rever sua amizade".

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Aos Artistas


 
A foto acima foi tirada na Bienal, que termina no próximo domingo. Ela, junto com uma frase que em insistente tilintar acompanha-me há semanas pertubaram minha leitura noturna.

Não vou explicar sobre arte, pessoas que sabem bem mais do que eu já não conseguiram fazer direito... Mas naquele workshop que contei para vocês que participei por acaso, ficou muito claro que se você quiser provocar determinado resultado o que você está fazendo não é arte, apenas propaganda. Arte instiga com liberdade, quem tem acesso pode concluir de forma contrária ao artista.

Arte ruim, neste sentido, é aquela que não é percebida, que as pessoas passam em frente e, por diversos motivos, nem olham. Gostar de uma obra, concordar com sua mensagem, pode significar tanto divertimento quanto rejeitá-la. A essência de toda arte é a consequente mudança de estado de espírito e possível reflexão.

Neste contexto surge a frase da outra oficina, a de que o importante é o que não está dito. Tanto nas artes quanto no cotidiano aguçamos e repreendemos os sentidos. A escrita sugere, o leitor decide. Enquanto houver silêncio, o texto protege e separa ambos. O artista sabe que as possíveis leituras não estão escritas e são elas que interessam, pois só elas têm algum sentido - e não o texto em si.

Não descobri o autor da frase, mas para mim foi muito mais artística do que várias instalações plásticas na Bienal, cujas propostas e provocações os monitores precisam explicar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Um ensaio após o ensaio

Chuva.

Estação do metrô.

Nada de pressa.

"Pague quanto acha que vale" na máquina de livros.

Nenhum livro razoável.

R$2,00.

Melhor qualquer leitura do que nenhuma para passar o tempo enquanto a chuva passa.

Em letras miúdas, "aceita somente notas, a partir de R$10,00".

Cadê o Procon?

"R$10,00. Só aceitamos notas. Máquina tão ultrapassada quanto seus livros (defeito proposital é mera característica), não dá troco nem aceita mais de uma compra por vez".

Ficou com vontade de escrever, mas foi só vontade, que passou junto com a chuva e não foi tão forte quanto a de chegar em casa.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Só pode ser o rebate (leia-se ribeit)


Quem acompanha este blog sabe que dificilmente cito marcas. Se você está começando agora a lê-lo, saiba que o faz em raro momento. Mas é que fiquei tão satisfeita com o atendimento recebido e com a descoberta feita que sinto ser necessário compartilhar com vocês.
 
Apesar do preconceito existente, antes de mais nada, preciso esclarecer que gosto de salsicha. Sei que é feita de carne dita menos nobre, mas para mim isso é puro preconceito. Na galinha, por exemplo, prefiro a moela e o coração ao insosso peito. E para qualquer animal, perder parte de um músculo é menos vital do que perder um órgão, logo uma carne de primeira ou de segunda é mero ponto de vista. O que como é simplesmente porque gosto do gosto, sei que saudável mesmo é ficar longe disso tudo.
 
Pois bem. Por muito tempo consumi apenas salsichas importadas. As nacionais, feitas de fécula de mandioca com sabor e aroma de salsicha, simplesmente “não descem”. Até que em uma viagem fui coagida a desviar da estrada e ir na loja de fábrica da Berna. Eles também têm salsichas com fécula de mandioca, mas há várias outras tão boas quanto as importadas.
 
Desde então, sempre que achava as tais salsichas (frankfurter mesmo, que é a mais simples) eu comprava. E o preço, como o de todos alimentos, começou a subir...Quando chegou a R$42,00 o quilo, escrevi para o fabricante reclamando do valor e perguntando se dava para congelar, pois já estava cogitando ir até a loja de fábrica e comprar uma quantidade que valesse a viagem.
 
Recebi resposta no mesmo dia. A área comercial não apenas me informou o nome de todos os lugares que comercializavam os seus produtos como também avisou-me de onde era mais barato. Fiquei muito satisfeita. Naquela mesma semana a salsicha, no lugar de costume, onde volta e meia ela está em falta, havia baixado para R$36,50. No lugar indicado pela área comercial da Berna o preço está em R$31,80 e o sortimento é muito maior.
 
Tudo bem, sei que R$31,80 não é nenhuma pechincha, mas é praticamente de 30% a diferença entre os preços e seis quadras de caminhada. O mais curioso é que o melhor preço é em um estabelecimento comercial tradicional por não tem no preço qualquer atrativo. Devem conseguir vender mais barato porque compram mais, aquela velha história do ganho de escala: se você quer comer algo sofisticado, compre em lugar sofisticado.
 
Não vou mencionar os respectivos estabelecimentos porque nem todos que me lêem são de São Paulo, tornar-se-ia uma informação desnecessária em um texto que quer homenagear o bom atendimento do fabricante. A área comercial também me disse que em breve haverá uma loja de fábrica longe da fábrica, na região central da capital, na Marquês de Itu. Estou na torcida para que os preços fiquem melhor ainda.