quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Uma pulga atrás da orelha


Durante anos passei em um cruzamento no qual um homem vendia panos de prato, tanto diferentes modelos com acabamento quanto apenas sacos alvejados. Nos dias de rodízio, percebia ele estacionando o seu carro e indo vender no farol.
No período de férias, um garoto, provavelmente filho do vendedor, ajudava-o mostrando os panos e dizendo o preço a quem perguntasse. Não raro, ele recebia dinheiro sem precisar entregar qualquer pano.
A melhor forma de desestimular o trabalho infantil é não o tornar lucrativo. Há retorno maior do que receber sem nada dar em troca? Eu sei que aquele garoto só ficava ali durante as férias escolares e nunca em dias de chuva. Mas será que os “esmoleiros” sabiam?
Vender exige técnica, empatia, muitas vezes conhecer o humano mais do que o produto. O vendedor é um profissional presente na rotina de todas as pessoas que vivam em sociedade, mesmo as que compram na Internet. O curioso é o sentimento de pena que gera em algumas pessoas, compram sem precisar, “só para ajudar”, quase como se não houvesse dignidade na profissão.
Vendedores ambulantes nas calçadas atrapalham o ir e vir de pedestres, vendedores ambulantes atrapalhando o ir e vir de carros previnem furto por dificultar a fuga.

Hoje, passando perto daquele farol, o vendedor ambulante era outro, vendia além dos mesmos panos de prato camisas e bandeiras do Corinthians. Mostrava a todos que possuía um daqueles terminais eletrônicos de cartão. O semáforo demorou muito, sinal que houve planejamento na localização, já que ele conta com um sistema de pagamento nem sempre ágil. Se eu fosse a única motorista perguntaria a ele se as vendas melhoram quando se aceita cartão: aquela maquininha, que tem custo mensal, desmistificou o “tadinho” -  aos que assim pensam ou agem.
Segui meu caminho curiosa em saber como ele mantinha a máquina, questionando se ele passaria a pagar imposto. Depois questionei-me se estava sendo ingênua em acreditar no funcionamento da máquina ou se estava sendo preconceituosa em imaginar a possibilidade de um “chupa-cabra” instalado. A lenda urbana dos camelôs do centro lá estarem para ajudar na venda dos lojistas, seja não fazendo concorrência com as lojas, seja vendendo produtos estocados nas lojas sem recolhimento de impostos, também ganhou força.
Quando der vou passar por lá de novo. Se ainda houver vendedor com terminal eletrônico para cartão, vou perguntar se é tanto para débito quanto para crédito e tentar obter mais informações – e depois conto para vocês.
 

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