sábado, 4 de novembro de 2017

Entendi o cinema mudo

Soube da programação por acaso. Noite linda de primavera, lua cheia e 26°. Fui confiando na curadoria do evento: apenas sabia que um filme seria projetado na parede externa do auditório do Ibirapuera enquanto a orquestra tocaria ao vivo (foto acima) para celebrar o final da 41a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O filme chamava-se "O Homem Mosca", de 1917. Uma comédia de riso fácil com a magia da música. Se fosse em um telão com reprodução do som (a forma como os filmes antigos nos são acessíveis) talvez eu risse menos.
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Lembrei-me das aulas de livreto, em que o professor contava que as óperas eram apresentadas entre piqueniques com animadas conversas, interrompidas para ouvir os cantores famosos da época, que muitas vezes cantavam músicas sem qualquer contexto com a ópera, só para exibir sua voz. 

Tal hábito de conversar com música e tendo alguma cena para distração foi levado pelos imigrantes italianos a Nova York, popularizando o cinema e atrapalhando quem ia às sessões para acompanhar o filme: a introdução de novas tecnologias (como som) ajudou a manter o público com poder aquisitivo nas salas de cinema, estratégia utilizada até hoje.

Na foto, há pessoas de pé: são vendedores ambulantes que insistiam em berrar e tirar a visão do público. Para quem não conhece o lugar, senta-se na grama e de qualquer ponto avista-se o palco. Será que alguém comprou água ou cerveja durante os 60 minutos de exibição? Não vi ninguém comprando.

Os vendedores deixaram de se divertir e ainda por cima atrapalharam a diversão de seus potenciais clientes, em uma demonstração de que não basta acesso (à cultura, gratuito) é preciso permitir-se acessar.

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