terça-feira, 15 de setembro de 2009

“Um idioma é uma tradição, um modo de sentir a realidade, não um arbitrário repertório de símbolos.”

Desde os primeiros cartões descobertos no Brique da Redenção percebi que ler Jorge Luis Borges era imperativo. Não lembro se cheguei a comprar algum cartão com seus versos (agradeço se puderem informar o nome do artista plástico, que com traços coloridos e abstratos ilustrava versos de diversos autores), mas a cada texto seu recebido por e-mail soava um alerta: ainda falta ler Borges.


Ano passado assisti um monólogo na Casa das Rosas em que o autor-ator-diretor o homenageou através de uma história original montada somente com trechos do poeta argentino.

Bem, encontrei um volume que tem poesia completa de Borges (e em versão bilíngüe, meu xodó). Mesmo não sendo a poesia um estilo de minha preferência, estou lendo-o aos poucos.

Minha primeira constatação foi de que ler poesia é uma forma de meditação; para compreender sua mensagem é preciso desconectar-se com o que está à volta e perder-se brincando com as palavras até encontrar o(s) possível(is) significado(s) do poema. Dependendo do seu momento será a conclusão – e não há resposta certa ou errada.

O título acima é um verso de Borges que me intrigou por dias, uma vez que o romantismo frequentemente mencionado como inerente à tradição e à realidade francesa, não havia até então sido compreendido por mim. Vou dividir o que aprendi recentemente; somente uma cultura que valorize o sentimento pode expressar tantas nuances de amor alterando somente a estrutura da frase:

J’adore” é a expressão do máximo afeto para coisas, mas é um gostar pouco intenso para pessoas (mesmo que haja inversão de valores, pessoas são potencialmente mais queridas que coisas). “J’aime” significa que a pessoa gosta, e só. Há também expressões como “j’aime bien”, que significa gostar, e “je (t’)aime beaucoup”, que é gostar muito.

De todas as expressões, a mais intensa a ser dita a alguém é “je t’aime”, o ser amado fica junto ao sujeito e pressupõe a cumplicidade dos amantes, pois eles já sabem do que se está falando e o silêncio deixado pela ausência do advérbio completa o sentido da frase.

Os amantes franceses também têm uma expressão específica para mencionar exclusividade: “je n’aime que toi”, uma forma rápida e clara de abreviar “je n’aime personne d’autre que toi”.

Nenhum comentário: