quarta-feira, 11 de maio de 2011

Dia das Mães

Orgulhosa. Sim. Era assim que se sentia: conseguira finalmente pedir para mudar a escala de trabalho e ter aquele domingo de folga. Sempre os outros que pediam e ela cedia, com medo de perder o único emprego que conseguir após anos como dona de casa. Mas esta semana havia sido diferente: estava escalada para o domingo e conseguiu trocar para o sábado anterior - e sem fazer hora-extra!

Em pouco tempo a família começaria a chegar, precisava apressar logo o preparo do almoço para ficar mais tempo na sala do que na cozinha. Confraternizar em restaurante, com pessoas de pé, olhando para você com cara de fome, não gostava: a reunião não ficava tão descontraída como em casa. Aguentar as esquisitices gastronômicas da nora também não era justo, logo no seu dia. Maldita hora em que ironizou a pizza pronta...foi o primeiro e o melhor prato preparado pela nora. Depois daquele seu comentário reconhece que a mocinha vem se esforçando, disse ter até frequentado aulas de culinária, mas como seu gosto e tempero não combinam com o da família e ninguém disfarça, ela apresenta a cada reunião uma novidade.

Todos chegaram animados, crianças correndo entre as poltronas, a gritaria de costume. Só durante a refeição conseguiu contar-lhes a grande novidade: finalmente sentia-se uma mulher moderna, compatível com o seu tempo. Apesar de estar cozinhando naquele dia a vida de dona de casa estava praticamente em extinção: contrataria uma empregada.

Os filhos se olharam e, com um sorriso amarelo, deram-lhe o presente, que poderia ser trocado, afirmaram-lhe: um conjunto de panelas, desses da moda, de cores vibrantes, bem do gosto de sua nora...Ficou sem reação e a atmosfera da confraternização ficou pesada. A dona de casa teria gostado das panelas de qualidade, mas a atual mulher trabalhadora não teria tempo para elas e precisava acostumar-se com os novos conceitos de produto.

Percebeu que precisava dissolver o mal-estar, um pouco por dó de ser "tão sogra" agradecendo com monossílabos o que certamente nenhum filho seu comprou e também com receio dos próximos presentes que viriam, e descobriu uma forma de tornar útil o que acabara de ganhar: em cada caçarola colocou um vaso com tempero, pendurou a frigideira na parede colando em seu fundo o relógio que ficava no canto da pia, a caneca substituiu o antigo escorredor de talher. Chamou todos para ver a nova decoração de sua cozinha: estava orgulhosa de si, mais uma mudança implementada em sua vida.

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