quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Desconstruções e clichês - um ensaio para a sala de aula

O começo foi um fim. Prefere acreditar duvidando, ao contrário do que fazem com as bruxas: quase a cereja do bolo. Humm, está indeciso em qual bolo colocar aquela cereja, ou se um morango não seria melhor. Saliva feliz: seu regime só começará na segunda-feira.

 

Na dúvida, prefere consultar o horóscopo. Imagina-se observado e, por isso, disfarça a irritação ao folhear o jornal. Já havia encontrado - em páginas diferentes - palavras cruzadas e Sudoku. Não aceita a impressão de signos esparsos em páginas aleatórias. No seu tempo era melhor -  melhores tempos virão, dizem os meteorologistas.

 

- Na fila?

- É

 

Só estava aguardando o elevador, mas sabe que brasileiros gostam de fila - melhor não ser do contra. "Se calar o bicho pega, se falar o pau come". Essa astróloga era muito boa, só Murphy acerta mais do que ela.

 

Certezas são cruéis, dúvidas edificantes. Quanto de ouro vale o silêncio, se é pelo pensamento que são oferecidos tostões? Faz questão de não ser ultrapassado ao entrar no elevador, jeito para não levar jeitinho ele tem. Treina a escuta com os desconhecidos e descobre-se adivinho:

 

- Que trânsito, hein!

- Ainda bem que é sexta-feira.

- Será que vai chover?

- Já que é sexta...

 

Para nada falar, finge ler o jornal. Basta um querer para dois brigarem; ele prefere perder a piada a criar inimigos. Com o sinal sonoro, a porta abre-se. Ele sai para vender choro aos que têm lenço.

2 comentários:

Luciana Hofmeister de Castilhos disse...

Adorei teus textos, uma maneira de repensar o cotidiano... Bjs Lu Hofmeister

Luís Indriunas disse...

Muito legal o texto, Parabéns