quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Um dia de calor

Acordou mais cedo para não ficar até mais tarde. Nas noites quentes, ainda mais as de lua cheia, são as ruas a melhor companhia.
 
Tantos quantos forem os minutos de antecedência serão os minutos sem ar condicionado. A saúde agradece: só se conforma com gripe de sol + sorvete, sol + mar gelado.
 
No almoço, nada comeu. Correu atrás de providências enquanto os ponteiros em seu pulso corriam.
 
Sentia sede, mas água só havia a que escorria do freezer vazio. Ouviu da criatura atrás do balcão que só havia cerveja e sólidos. Até aquele pé sujo estava desprevinido. O desaforado supermercado vendia bebida a preço de restaurante. Não comprou.
 
Na sarjeta, viu enterrada na lama uma moeda. Com o pé, tentou tirá-la dali. O tênis branco ficou marrom, mas só na ponta. Muitas moedas são necessárias para manter o branco.
 
Enrolou um papel da bolsa e, antes de usar sua ponta para tirar a moeda dali, um bloco de gelo desprendeu-se do freezer escorrendo pela sarjeta.
 
O papel molhado perdeu a utilidade. Disfarçou, limpou a ponta do tênis e na sarjeta deixou a moeda e o ex-gelo misturados na lama.

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