sábado, 21 de janeiro de 2012

Distraindo o esquecimento

Segurava uma caneca, não lembrava porquê. Estava na sala de sua casa. Colocou-a no lugar e voltou a ler o livro que estava aberto no chão ao lado da poltrona. Ao certo, não sabia quando o havia interrompido e retornou algumas páginas; o suficiente para conseguir acompanhar a história de onde ainda se recordava. A descrição de um dia de verão deu-lhe sede. Foi até a cozinha e viu que um bule de chá, naquela chuvosa e quase fria tarde de sábado, fumegava. O líquido estava muito quente para um copo, o ideal mesmo seria colocá-lo em algo maior e mais fácil de segurar, como uma caneca...

De diferentes formas, sempre com algum atraso, vinha percebendo “espaços em branco”, períodos demarcados pelo relógio que somente por esse motivo sabia tê-los vivido. Resolveu prevenir-se e levou o bule até a sala. A lâmpada deixava marcadas as imperfeições da parede, tal qual a superfície da lua, um mundo em que talvez ela estivesse há algum tempo.

Entre um gole e outro, refletia se seria a distração a causadora do esquecimento ou se o esquecimento seria o causador da distração. Pensou em muitas coisas, mas não registrou nenhuma. Entre um gole e outro, refletia se seria o esquecimento o causador da distração ou se a distração a causadora do esquecimento. Afinal, por que lembrar-se de tudo?

Com o livro no colo, a divagação poderia apenas ser uma desculpa para fugir de sua realidade, mas desculpa é algo que se lembra a toda hora e ela novamente esqueceu-se - só que dessa vez de sua distração -  e voltou a ler.

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