sábado, 19 de novembro de 2011

Apresentando os fatos: a crítica construtiva.

A confraternização de ontem, comemorando o final do primeiro curso de roteiro que participei, foi um daqueles momentos "Eureka". Tenho a percepção de que agimos sempre a partir de nossos parâmetros, que podem se modificar no decorrer da vida conforme vamos conhecendo os parâmetros dos outros. Pois foi na conversa informal da janta, ao redor da grelha, que novo parâmetro foi-me apresentado.

Durante minha adolescência, perdi a conta dos cursos que procurei, dos cursos em que me matriculei e não consegui fazer por falta de oferta ou de quórum - era uma época em que não havia Internet. Pelos jornais, constantemente eu descobria as diversas possibilidades do mundo e o meu isolamento, imposto por uma sociedade caseira, tradicional, feliz no seu jeito de ser, com parâmetros diferentes dos que eu queria para mim.

A educação formal, que permita o desenvolvimento através do conhecimento das possibilidades existentes, da consolidação das preferências gerando escolhas maduras, é o mínimo a ser oferecido. Isso eu tive. Utilizo quase tudo que aprendi na escola e, mesmo assim, seria muito infeliz se me percebesse condenada a não expandir o leque de aplicação da teoria. Refiro-me a aperfeiçoamento em esportes, artes, mecânica, marcenaria, jardinagem, lidas domésticas etc - que podem ser tanto profissão quanto um "plus" na vida.

Relaciono a existência de tais cursos, pagos ou não, à cidadania. Inscrever-se em atividades e não ir, ou abandoná-las, sempre julguei como egoísmo: se houve interesse e foi feita a inscrição, tem que frequentar e participar. Se muitos desistirem, a oferta pode não se repetir, é uma forma indireta de restringir a oportunidade dos demais. Ser selecionado é tirar a vaga de outro; deve haver comprometimento com a escolha, contribuição na melhoria do grupo, reclamar se o prometido não estiver sendo cumprido (se este for o caso), ao invés de somente abandonar o barco.

Não imaginava, contudo, que a evasão pudesse ocorrer pela dificuldade das pessoas em receber críticas. Seria possível ir à aula apenas para receber elogios? Confirmar (ou mostrar aos colegas) o que sabe? Se já há perfeição, por que então tirar o lugar de outro que compreende que há em que melhorar?  É tão lógico para mim que mesmo que se faça o melhor (e seja assim considerado pelos demais), sempre haverá a possibilidade de ser superado - o que não tira o mérito do que fora feito, tal como ocorre nos esportes. Ou alguém consegue sustentar que a medalha de ouro de uma olimpíada é melhor que a de outra?
Lembrei-me do jardim de infância. Aos cinco anos, utilizando tesoura sem ponta, aprendi a recortar vazado. Um certo dia, a professora mostrou-nos uma borboleta de cartolina, com papel celofane em suas asas. Cada aluno ganhou uma folha A4 com a mesma borboleta desenhada. Em grupo, concluímos que o melhor seria primeiro recortar o papel e depois colar o celofane. Cada um fez de seu jeito e entregou o trabalho. Eu fiquei super feliz porque minha borboleta não havia desmoronado e também porque eu havia percebido, para que ficasse bonito, que todos os celofanes precisariam ser colados no mesmo lado.

Era costume a professora mostrar ao grupo todos os trabalhos entregues. Ela surpreendeu-me ao fazê-lo utilizando uma lâmpada opaca: olhando contra a luz, foi percebtível que em um dos celofanes da minha borboleta havia marca de cola e que eu colara os pedaços coloridos sem me preocupar com a forma. Olhando o lado direito, digamos assim, eu fizera o solicitado, mas o acabamento do avesso estava ruim, pior do que o de alguns colegas.

Em outra ocasião, colávamos sementes em madeira. Ao entregar, a professora batia a madeira contra a mesa, se alguma semente caísse, precisava refazer e adiar a ida ao recreio. Certamente passei por várias experiências parecidas, mas foram essas duas que lembrei ao voltar da janta. Curioso perceber, apenas décadas depois, o quanto a "Tia Mônica" pode ter influenciado em minha percepção de mundo; a reflexão sobre as críticas sem intimidar-se com elas e o constante preocupar-se com mais fatores dos que os originariamente postos - essenciais à minha profissão - podem ter se originado ali. 

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