terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Coisas que só eles conseguem

Não era apenas o desconforto do calor, a readaptação forçada à rotina já conhecida, nem aquele torpedo, informando o “jantar casual” recém combinado pelo marido com colegas de trabalho para exibir a piscina que construíram neste verão, ela que nem sequer se lembrava do que tinha na geladeira. Era tudo junto mais aquelas crianças que não paravam de brincar, uma dentro e a outra fora do carro. Não queria buzinar, estava vendo que o pai simpático também conversava com a funcionária do pátio e ficava ali, sem poder sair do lugar e sem saber ao certo quem e em quais condições encontraria em casa.

 

- Ih, mãe, tecla “f”.

 

Em outro contexto explodiria, mas ali não dava, não com quem também era vítima da situação, sentia sede e fome e tentou diminuir o problema. Respirou fundo, certamente estava transparecendo a irritação e precisava acalmar-se.

 

- Como assim, tecla “f”?

 

- Ué, “f” de feliz. É só não dar bola.

 

Sorriu. Na sua frente, uma das crianças voltou correndo para dentro da escola, mantendo a porta de trás aberta, o que impediria qualquer manobra do carro. Ainda teria que esperar. Atrás, os pais já haviam saído de seus veículos e confraternizavam. Pegou o celular na bolsa e teclou:

 

“Boa janta, nós iremos comer por aqui e chegaremos mais tarde.”

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