domingo, 5 de janeiro de 2014

Pingando limão na urucubaca

Poderia ter estacionado em outro lugar, ali nem era o mais perto da porta de entrada. Pensou nisso quando viu as luzes da trava piscarem, andava realmente distraída naqueles dias. Em poucos minutos o temporal começou: tão forte quanto rápido. Finalmente acertara! Não apenas havia vários livros disponíveis na biblioteca, impossíveis de serem carregados a pé, como aquela ducha natural era mais do que necessária: ao invés de lavar, secava o carro.

 
 

Secava e aspirava, batia os tapetes – sempre discretamente. Particularmente nos dias de inverno, secar o carro afasta o frio mais do que lavá-lo em dias quentes possa parecer refrescar. Na cidade, o brilho de um carro encerado só é mais intenso, mas não dura mais do que o de um carro simplesmente seco após um temporal.

 

Os movimentos eram mais ou menos cronometrados: abria o guarda-chuva na garagem para escorrer o excesso d’água, pegava o pano no porta-luvas e começava o trabalho. Primeiro espelhos laterais, depois as laterais. Com o calor do motor, o capô seca muito rápido, o pano já úmido finalizava sua função ali. Depois, com novo pano, secava o resto, começando pela parte de cima. Para esse processo, ruim mesmo, que só marca a sujeira e não molha o suficiente, é o chuvisco. Pelo menos até aquele dia.

 

Naquele dia, em que estava satisfeita e sem guarda-chuva, mudou a rotina. Dias depois é que foi perceber a mancha. Talvez tenha sido algum trovão, talvez tenha sido um galho pesado com o vento, talvez aconteça todos os dias, mas um passarinho marcou de branco a lataria de uma forma que nem água, nem sabão, nem esponja macia tirou.

 

Sem querer contratar um polimento, fez usca rápida na Internet e descobriu, além de um determinado produto (testado com restrições), que limão poderia lhe salvar. Após uma limonada, esfregou e esfregou a casca e o final do sumo na mancha. Tocou o telefone e esqueceu da vida. O limão secou e grudou de tal forma que ampliou o problema, acrescentando relevo à mancha. Resignou-se.

 

Sorte foi ter novo temporal e, ao passar o pano, onde havia relevo, a mancha desfez-se. Resta agora usar mais limões e beber mais limonada.

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